Trocando de roupa para o Banquete Nupcial

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Caminhada para o Céu

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sofrer, e não o fazer por amor de Deus, é um tormento infinito — sofrer tudo por Deus, é uma delícia!” São Geraldo Magela





A VIDA DE SÃO GERALDO MAGELA

CAPÍTULO VIII 

Profissão dos votos 

Em junho de 1751 o Pe. Mazzini fez em Iliceto a visita canônica. Esse acontecimento foi de importância capital para o nosso santo. Entrado a pouco como irmão leigo, Geraldo não podia esperar para logo a licença da emissão dos votos, porque na Congregação era costume prolongar a provação dos leigos, sendo muito raras as exceções. 

Além disso a sua compleição fraca inspirava cuidados, embora se mantivesse firme durante o ano todo. Diante disso nem os encômios dos seus superiores nem as recomendações dos confrades poderiam determinar o santo fundador a admitir Geraldo, antes dos outros, à profissão religiosa. O Pe. Mazzini, um dos mais influentes conselheiros do santo, chegou a ver com seus próprios olhos, na visita, o nosso Geraldo e convencer-se da virtude lídima e excelente espírito do jovem irmão. 

O Pe. Visitador reconheceu que nele a Congregação possuía um tesouro inestimável, que se não devia perder, mas guardar com cuidado. Propôs por isso ao santo Fundador admiti-lo à profissão mesmo antes dos outros. Santo Afonso acedeu e em janeiro ou fevereiro de 1752 chegou em Iliceto uma carta do superior geral permitindo ao Irmão Geraldo começar o seu segundo noviciado, o segundo meio-ano de provação para a profissão dos votos. 

É fácil imaginar-se a alegria do santo ao receber essa per-missão. 
Entretanto no convento de Iliceto deram-se alte-rações que afetavam de perto o nosso noviço. 
Mais ou menos em fins de outubro de 1751 o Pe. Cafaro depusera o cargo de superior para reger, como reitor, o convento de Caposele. Em seu lugar entrou, para pouco tempo, o Pe. Francisco Giovenale, que foi substituído pelo Pe. Salvador Gallo, que poucas semanas depois, em fevereiro de 1752, entregou a direção da residência de Iliceto ao Pe. Carmello Fiocchi, que a regeu até outubro de 1755. 

Geraldo sentiu o afastamento do Pe. Cafaro, excelente diretor de almas; não se privou, entretanto, da sua direção espiritual, que o orientou até a morte. De sua parte Cafaro favoreceu sempre com seus conselhos o abençoado Irmão. Uma vez, palestrando sobre o santo, disse Cafaro: “O Senhor favoreceu esse irmão em tudo e mais do que aos outros; toda a sua vida é um milagre constante”. 
Geraldo escolheu para confessor o Pe. Giovenale, que lhe supriu de certo modo a falta do Pe. Cafaro. O Pe. Giovenale, nascido em Lacedogna em 1719, entrou na Congregação como jovem sacerdote (1746) e desde 1749 entregou-se em Iliceto à direção espiritual do Pe. Cafaro, cujo espírito se transfundiu no seu penitente. Para torná-lo semelhante a seu diretor, Deus enviou-lhe duras provações, das quais saiu, à custa de experiência própria, excelente guia de almas. Trabalhou incansavelmente no ministério das missões. “Oxalá pudesse eu, exclamava às ve-zes, morrer de armas na mão e no combate pela salvação das almas, pelas quais morreu Jesus Cristo”. Faleceu em fama de santidade em Santo Ângelo a Cupulo a 1 de maio de 1782. 

Ao começar Geraldo o seu segundo noviciado o Pe. Giovenale era, muito provavelmente, mestre de noviços. Mais tarde, com a transferência do Pe. Giovenale para o convento de Caposele (abril de 1752), o Pe. Fiocchi, reitor, assumiu esse cargo. 
O santo nada perdeu com essa mudança. Embora mais moço do que Giovenale e Cafaro, podia o Pe. Fiocchi competir com eles em virtude e ciência da direção espiritual; era de molde a conquistar-se logo a afeição e a confiança do santo. 

Nascido a 31 de junho de 1721 em Cajano de pais virtuosos, revelou Fiocchi desde os seus mais verdes anos, grande piedade, apaixonando-se pela união com Deus e afeiçoando-se de tal forma à vida de penitência que sua mãe lhe teve de arrancar muitas vezes das mãos os instrumentos de mortificação. Quando da idade escolar, foi enviado a Nápoles para se aperfeiçoar nas ciências. Os divertimentos da capital não atraíam o seu coração; conservou ilibada a sua inocência e progrediu brilhantemente não menos na virtude do que nas ciências, às quais se dedicou com os mais estupendos resultados. Logo após a sua entrada no seminário de Salerno recebeu o subdiaconato. A sua aspiração porém era mais alta; sentia vocação para a vida religiosa e não quis procrastinar a realização do seu intento. 

Examinou as diversas Ordens existentes e viu que a Congregação do Santíssimo Redentor, que acabava de ser fundada, satisfazia mais aos seus desejos. Escreveu ao santo Fundador, expondo seu desejo e pedindo a admissão na Congregação. Santo Afonso acedeu ao seu pedido e respondeu-lhe pouco depois “que a sua vocação vinha de Deus que reclamava sua propriedade, e que ele devia corresponder o mais depressa possível ao chamamento divino, porquanto a vocação é uma graça que se pode perder facilmente”. 

Fiocchi dirigiu-se incontinenti ao noviciado de Ciorani. Os pais, aliás piedosos, levaram a mal aquela partida tão apressada do filho; pediram e ameaçaram o moço resoluto, querendo demovê-lo da sua resolução e reenviá-lo ao seminário; fracassados os seus esforços recorreram ao poder civil. Conseguiram, por ordem do go-verno, afastar o filho do convento redentorista e levá-lo a um convento de Salerno, afim de lá se provar a sua vocação; tudo porém foi em vão; não puderam demovê-lo da resolução tomada. As marteladas endureceram o aço; com maior alegria e coragem voltou Fiocchi ao convento depois de resistir a todas as provações e importunações. 

Em 8 de maio de 1744 professou nas mãos de Santo Afonso. Terminados os estudos e ordenado sacerdote foi logo, apesar da sua pouca idade, enviado às missões. Como um dos maiores missionários, formados na escola de Santo Afonso, trabalhou durante trinta anos na salvação das almas com zelo ardente e resultados estupendos, prendendo os corações ainda mais pela força de suas virtudes do que pela sua eloqüência que era admirável. Na idade de 28 anos foi reitor do convento de Nocera e, depois da morte do Pe. Sportelli (1750), Afonso o recebeu entre os seus consultores gerais. 

Dentre as muitas virtudes desse santo religioso sobressaíam especialmente a humildade, a pobreza e a obediência. Extraordinário era o seu amor a Jesus Sacramentado e a SS. Virgem; era um mestre consumado no exercício da presença de Deus. 
O Pe. Fiocchi expirou na doce paz do Senhor em 1776, com o nome de Maria nos lábios. Muitos têm conseguido graças insignes à invocação de seu nome. Quatro anos depois da morte o seu corpo estava ainda incorrupto. 
Sob a direção espiritual de homens como o Pe. Giovenale e o Pe. Fiocchi foi fácil para Geraldo prosseguir, no segundo noviciado, a obra começada no primeiro. Novamente teve o santo ocasião de praticar com perfeição especial as duas grandes virtudes: obediência e penitência. 
A respeito da obediência simples e humilde do noviço alega o Pe. Giovenale diversos episódios, que queremos mencionar com suas próprias palavras. 
“Uma vez, conta ele, chamei Geraldo para me ajudar a missa. Eu sabia, como todos, que após a santa comunhão ele costumava perder os sentidos em santos arroubos de amor divino; não obstante mandei-o comungar antes da missa, que lhe serviria de ação de graças, para poder logo depois começar o seu trabalho. Lembrando-se do que lhe soía acontecer depois da comunhão, apostrofou-me: ‘Mas, padre?’ — Que é isso, repliquei cortando-lhe a palavra, não quereis obedecer? Não foi preciso mais; comungou antes da missa. Executou, a tremer, a minha ordem; terminada a missa; recolheu-se atrás do altar, ajoelhou-se e permaneceu, longo tempo, em êxtase”. 

Geraldo obteve de Deus a graça raríssima de ficar livre das tentações contrárias à bela virtude, de sorte que nem sabia em que elas consistiam. Não suspeitando perigo em parte alguma, andava sempre de olhos abertos em todos os lugares. Notando isso, mandei chamá-lo e disse-lhe: “Porque não observais a modéstia dos olhos e não os baixais?” “Mas porque é que eu devo baixá-los?”, respondeu-me com toda inocência. Para não lhe roubar a simplicidade, retruquei: “É porque eu quero que os baixeis”. Essa palavra foi bastante para eu conseguir o meu intento; desde esse dia nunca mais levantou os olhos, não por medo das tentações mas por obediência”. 

“Lembro-me que, uma vez, durante a sua enfermidade fui chamado ao seu quarto, onde o encontrei ardendo em febre. Como ele se achava sob a minha direção espiritual, mandei-o levantar-se são e ir para o trabalho. Obedeceu, levantou-se e a febre desapa-receu. Estando eu de partida para as missões, abordou-me com a pergunta: ‘Padre, não tenho mais licença de ficar doente?’ — ‘Até a minha volta das missões, respondi, deveis conservar-vos com saúde’. E assim foi”. 
Essa obediência admirável pôde também testificá-la o Pe. Fiocchi, sucessor do Pe. Giovenale. Devendo uma carta ser despachada para Lacedogna, o Pe. Fiocchi deu ordem a Geraldo de se pôr imediatamente a caminho. O servo de Deus já estava longe quando o reitor se recordou de não ter escrito um ponto importante. “Se eu pudesse fazer voltar o irmão”, pensou ele; não tardou muito e Geraldo, de volta, entrou no quarto do superior entregando-lhe a carta. O Pe. Fiocchi, simulando ignorância no caso, perguntou-lhe pelo motivo de sua volta. Geraldo não respondeu, mas com um sorriso deu a entender que ficou sabendo do desejo de seu superior. 
Ainda mais maravilhosa mostrou-se a obediência do santo no caso seguinte: Em março de 1752 achava-se o Pe. Fiocchi em Melfi no palácio do bispo Mons. Basta, grande amigo da Congregação. 

A conversa caiu sobre a vida santa do irmão Majella. O bispo queria conhecê-lo mais de perto; com as narrações do reitor cresceu ainda mais o seu desejo, ao ponto de exigir a presença de Geraldo em Melfi. O Pe. Fiocchi achou bom satisfazer o desejo do bispo, que logo se preparou para mandar um portador a Iliceto com o recado ao irmão: “Excelência, disse o Pe. Fiocchi, não é necessário mandar um portador; basta que eu lhe dê, mentalmente, ordem de vir; V. Excia. verá quão grande é a sua obediência, e o quanto ele é favorecido por Deus”. O Pe. Fiocchi recolheu-se um momento e ordenou a Geraldo que se dirigisse a Melfi. 

Na mesma hora o Santo em Iliceto foi ter com o Pe. Ministro, que fazia as vezes do Reitor, e pediu licença para ir a Melfi, porque o superior o estava chamando. A licença foi dada. Geraldo partiu e chegou ao palácio episcopal de Melfi no momento em que o bispo se entretinha com o Pe. Fiocchi. “Que é que vos traz aqui?” disse este friamente ao irmão, que entrava para lhe beijar a mão. “A ordem que V. Revma. me deu”, foi a resposta. “Como? a ordem? continuou Fiocchi, eu não vo-la comuniquei nem por carta nem por portador”. — “Mas, meu padre, replicou Geraldo, V. Revma. na presença do sr. bispo deu-me ordem de vir, porque ele me deseja ver. — Excelentíssimo Senhor, acrescentou Geraldo ao prelado, quem sou eu para me desejarem falar; sou um miserável verme, que tem necessidade de toda a misericórdia de Deus”. 
É fácil imaginar-se a impressão causada ao bispo pelo aparecimento e pelas palavras humildes do santo; verificou ser verdade o que todos diziam dele — um prodígio de obediência, simplicidade e humildade. Desejou conservá-lo mais tempo debaixo dos seus olhos, o que lhe foi concedido. 
O prelado, que hospedou Geraldo, era um homem de grande circunspecção e prudência. Embora o primeiro encontro com Geraldo lhe proporcionasse elevado conceito da sua virtude, julgou não dever contentar-se com isso. Pôs-se a provar de todas as maneiras o espírito do irmão e investigou os motivos que o guiavam, para se certificar se o exterior não destoava do interior. A prova foi favorável ao santo. Desde então o bispo encheu-se de admiração pelo irmão, procurando tirar proveito da ciência sobrenatural e da prudência desse santo religioso. Entreteve diariamente longas conferências com ele, dirigindo-as de forma que Geraldo fosse obrigado a emitir o seu juízo sobre muitos negócios referentes ao bem da diocese. 

Os que rodeavam o bispo não se saciavam de ouvir e fazer perguntas ao santo. “Ele porém — assim narra um sacerdote que no palácio muitas vezes se encontrou com ele — falava sobre assuntos da religião, mormente sobre o mistério da Encarnação, com a facilidade de um Agostinho ou de um Jerônimo”. 

Mais ainda do que a ciência sobrenatural de Geraldo, despertava admiração e edificação a sua vida santa. O servo de Deus no palácio do bispo levava a vida da sua cela em Iliceto, trabalhava, orava e prati-cava os exercícios de piedade sempre recolhido, pa-recendo conviver com os homens, apenas para lhes comunicar o fogo do seu amor. Uma vez, encontrando-se com o cozinheiro do bispo, colocou-lhe a mão sobre o peito dizendo em tom insistente: “Amemos a Deus, amemos a Deus”. 
Também fora da resistência episcopal tornou-se Geraldo muito conhecido; a fama da sua santidade difundiu-se sobretudo nos conventos da Ripacandida e Atella, com os quais, mais tarde, o santo iria entrar em estreitas relações. 

Para os amigos do santo decorreram depressa os poucos dias de sua estada em Melfi; tentaram de-tê-lo por mais tempo, porém debalde, porquanto o santo não se demorou nem um minuto mais do que lhe era permitido. 
Na tarde do último dia arreou o cavalo e aprontou-se para partir para Iliceto. Era já muito tarde; uma neblina espessa envolvia a terra; estava iminente uma chuva torrencial. 
Geraldo pouco se preocupou com isso e partiu. Devido a forte cerração não lhe foi possível distinguir o caminho, extraviou-se e foi dar a uma floresta que circundava o rio Ofanto, difícil de atravessar à noite devido às muitas escavações feitas pelas enxurradas. Estava em má situação o nosso irmão; não enxergando mais nada, teve de abandonar-se ao instinto do animal. Eis que de repente vê diante de si um ser vivo, que lhe tentava embargar os passos. Era o demônio que espreitava o momento do mais grave perigo para perder o seu inimigo. Entretanto era ele que devia tirar dos apuros ao homem da fé e conduzi-lo são e salvo ao lugar do seu destino. Alta hora da noite chegou Geraldo a Lacedogna, onde se hospedou com Constantino Capucci, amigo da Congregação. 
Ouçamos da boca de Capucci, ou antes dos lábios do santo, como conseguiu ver-se livre das emboscadas do demônio. 
“Eram 10 horas da noite, conta Capucci, e eu estava sentado com minha família junto ao fogo; já estávamos para recolher-nos, quando ouvimos bater à porta. A essas horas, com um tempo tão mau, era deveras para estranhar. Perguntei quem batia. ‘O Irmão Geraldo’, foi a resposta. Conhecendo logo a voz, abri imediatamente a porta e vi o irmão todo ensopado e coberto de lama”. 
“Que é isso, meu caro Irmão Geraldo, exclamei abraçando-o, vós aqui a estas horas e com este tempo?” 

“Faça sempre a santíssima vontade de Deus, meu caro Constantino, respondeu, estou voltando de Melfi; a escuridão, a neblina, a chuva desviaram-me do caminho e fui parar à margem do Ofanto, à beira do precipício, onde eu teria sucumbido, se Deus não tivesse vindo em meu auxílio. No momento do maior perigo apresentou-se-me alguém em frente, com as palavras: ‘É aqui que eu vos queria; sou agora o dono da vossa pessoa; não obedecestes ao Superior, Deus não vô-lo perdoa’. A princípio fiquei um tanto surpreendido; recomendei-me a Deus e reconheci o inimigo das almas. ‘Besta miserável, disse-lhe, ordeno-te em nome da SS. Trindade, que me puxes às rédeas do animal!’ Assim evadi-me do perigo; sem esse companheiro estaria eu agora sepultado nas águas do Ofanto. Ao chegarmos perto da igreja da SS. Trindade, disse-me mal humorado o meu estranho companheiro: ‘Aqui é Lacedogna’ e desapareceu”. 

Com a mesma simplicidade narrou, ao voltar, essa sua aventura aos padres Fiocchi e Giovenale, aos quais não queria ocultar coisa alguma a esse respeito. 
No segundo noviciado aplicou-se Geraldo à solidão e ao mais completo afastamento do mundo; julgou necessário proceder assim por ser já muito conhecido fora do convento. Os superiores acederam aos seus desejos e proibiram-lhe qualquer comunicação com estranhos. 
À priora das Carmelitas de Ripacandida, que lhe pedira recomendá-la a um certo ermitão, escreveu o santo em abril de 1752. “Para dar o seu recado tive de entregar a carta ao Irmão Caetano. Agora só me resta o caminho dos sinais; já há muito estou mudo, porquanto é essa a vontade de Deus. Os superiores proibiram-me falar com estranhos, a não ser que eu esteja fora de casa. Pedi a Deus, acrescentou, queira desfazer o bom conceito que alguns fazem erradamente de mim, e que os homens não desejem mais falar nem entreter-se comigo!” 
Chegara enfim o tão almejado mês de julho de 1752 em que Geraldo devia consumar o sacrifício, consagrando-se como vítima ao Senhor pela profissão dos santos votos. Na festa de Nossa Senhora da Visitação começou os usuais exercícios de quinze dias e a 16 de julho, festa do SS. Redentor e de Nossa Senhora do Carmo, emitiu os votos religiosos. 
As particularidades dessa festa não nos são conhecidas; sabemos apenas que o santo irmão exultou de prazer nessa ocasião, difundindo alegria sobre a comunidade de Iliceto, que participou ativamente da sua felicidade. Os sentimentos de júbilo, amor e gratidão que avassalaram o seu coração nesse ato sublime, atestam-nos duas cartas escritas por Geraldo logo depois da sua profissão, nas quais se patenteia a comoção da sua alma. A primeira, espelho fiel da grande alma do bom irmão, foi dirigida nos seguintes termos a Santo Afonso, superior geral da Congregação: 

Jesus e Maria. 
A graça do amor divino esteja com V. Paternidade, e a Imaculada Virgem Maria vos proteja. Amém. 
Meu Pai. Prostrado aos pés de V. Paternidade, agradeço-vos do íntimo da alma a bondade e a caridade, que me mostrastes, sem nenhum merecimento meu, admitindo-me na Congregação e aceitando-me por filho vosso. Seja eternamente bendita a bondade divina, que me dispensou tantas misericórdia, entre outras, a de eu poder fazer no dia do SS. Redentor, a minha profissão, consagrando-me inteiramente a ele. Meu Deus, quem sou eu, para atrever-me a fazer ao Senhor a minha oblação! Quisera agora falar da grandeza e bondade divina; mas isso seria, na presente circunstância, muito inútil e vós me teríeis na conta de um louco! Meu Pai, pelo amor de Jesus e de Maria, peço-vos me abençoeis e coloqueis aos pés da Majestade divina. Beijando-vos as mãos, sou 
De V. paternidade indigno filho 
GERALDO MAJELLA, C.Ss.R.  

A outra carta escrita ao Pe. João Mazzini, a 26 de julho de 1752, é assim redigida: 

Jesus e Maria. 
A graça do Espírito Santo encha-vos a alma e fique convosco, e a Imaculada Virgem vos guarde. Amém. 
Meu caro padre. O amor que vos consagro em Jesus e Maria, amor que julgo puro e fundado em Deus, não vô-lo posso exprimir em palavras; só Deus o conhece. De coração agradeço-vos a bondade e a caridade com que vos empenhastes junto do nosso caro Pai para eu emitir os santos votos. Fiz a minha profissão no dia do SS. Redentor e espero que a Majestade divina me não há de desamparar e me ajudará a fazer sempre a sua santíssima vontade. 
Meu padre, pelo amor de Jesus e Maria, interessai-vos pela minha alma; recomendai-a Deus, que eu nunca, nunca me esquecerei de V. Revma. 
Beijo-vos as sagradas mãos. Et perpetuo perma-nemus in corde Jesu et beatae Mariae (permanece-mos sempre unidos nos corações de Jesus e Maria). 
De V. Revma. indigno servo e confrade 
GERALDO MAJELLA, C.Ss.R. 

Como era de esperar, a perfeição oblação de si mesmo pelos santos votos ateou um novo incêndio de amor e fervor no coração do santo. Em suas anotações firma com as seguintes palavras o propósito de renovar freqüentemente os seus votos: “Durante o Memento dos mortos, na santa Missa, apresentarei ao Senhor o desejo do martírio e renovarei com fervor os meus quatro votos”. 
Em um outro lugar diz: “A 21 de outubro de 1752 fiquei compreendendo melhor as seguintes verdades: Sofrer, e não o fazer por amor de Deus, é um tormento infinito — sofrer tudo por Deus, é uma delícia!” 
Imitando Santa Teresa emitiu ele, por essa ocasião, o voto “de fazer sempre o que julgasse mais perfeito” — voto esse que assusta a fraqueza humana, e que é a expressão de um coração que se entregou inteiramente a Deus e seus interesses divinos. Como esse voto sublime e difícil condizia perfeitamente com a vida e aspiração do santo, “pôde ele, como se exprime um dos seus biógrafos, levá-lo ao mais alto grau de perfeição. Desde então viam todos em Geraldo o homem celestial, guiado pela inspiração divina, o religioso de incomparável pureza, e instrumento insigne nas mãos de Deus para a salvação das almas”.