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Caminhada para o Céu

terça-feira, 8 de abril de 2014

«O ativismo de João Paulo II foi o da dignidade humana: nunca se sentiu um político» Joaquin Navarro-Valls, leigo e espanhol, deu cara e voz aos comunicados do Vaticano durante 22 anos.

ReligionenLibertad.com


«El activismo de Juan Pablo II fue el de la dignidad humana: nunca se sintió un político»
Joaquin Navarro-Valls fala a ReL sobre o Papa polonês


«O ativismo de João Paulo II foi o da dignidade humana: nunca se sentiu um político»

Joaquin Navarro-Valls, leigo e espanhol, deu cara e voz aos comunicados do Vaticano durante 22 anos

Jordi Picazo / ReL- 4 abril 2014-religionenlibertad.com

João Paulo II morreu em 2 de abril de 2005. Nove anos depois, no aniversário de "nascimento para a vida eterna", seu "dies natalis", o filólogo Jordi Picazo entrevista para ReL o doutor Joaquin Navarro-Valls, que conviveu 22 anos com o Papa polonês e foi o único leigo da história a ocupar o posto de Chefe da Sala de Imprensa do Vaticano. De  perto foi testemunha de grandes mudanças históricas, e do papel de João Paulo II nelas.

- A queda do Muro de Berlin em 1989, a abolição da pena de morte em países como a Guatemala e Filipinas, evitar uma guerra entre o Chile e a Argentina... podemos falar de um Papa "ativista"?

-Se você quiser chamá-lo assim, eu não acho inconveniente em aceitar. Ativista, entre aspas pelo menos. Um ativismo que se pode atribuir a João Paulo II é o ativismo da dignidade humana. Essa foi sua  arma, a de falar, pregar e fazer o possível pela dignidade do ser humano, e aí entram guerras, totalitarismo, tudo o que você quiser.

-  E político?

- Não se sentia um líder político nem sequer quando caiu o muro de Berlim e mudou a vida de centenas de milhões de pessoas em todo um âmbito. Não somente há que destacar o milagre da mudança: aquela mudança se produziu sem derramamento de sangue, coisa que nenhum historiador pensava que podia suceder. Bem, tudo isso foi possível porque ele era o grande ativista -eu utilizo sua palavra- o grande ativista da dignidade humana: aquilo convenceu.
Em Cuba, por exemplo, estive com ele. Bem, o sistema em Cuba não é que tenha mudado de per si, mas mudou a Igreja,   mudou muito sua presença, seu reconhecimento social em Cuba. Antes daquela viagem estava apartada de todo protagonismo social. Desta forma também se poderia analisar Chile, Uruguai, Paraguai...



- Como quis  Bento dar continuidade à visão de João Paulo II?

-No caso de João Paulo II como Papa filósofo, e um grande teólogo como Bento XVI, posso dizer que Bento  concedeu, desde que renunciou ao pontificado, uma só entrevista, que nestes dias  está se tornando na Itália  um livro que  vai se publicar e que me toca apresentar no dia cinco de abril aqui em Roma. Bento afirma aí, com a modéstia e a riqueza intelectual que lhe tem caracterizado sempre, e a elegância intelectual: “Eu nem quis  nem podia imitar  João Paulo II. Não o quis  e tampouco o podia fazer", disse Bento.

»Ou seja, cada um tem a responsabilidade do que é e do que tem que fazer e por isso se diferencia muito de seu predecessor, mas que necessariamente se faz com o próprio carisma, com o próprio modo de ser. Isso que Deus  escolheu ao mudar uma pessoa por outra. Desde este ponto de vista penso que  para Bento XVI não  foi difícil dar continuidade à reforma iniciada por João Paulo II.

»Na época cardeal Ratzinger era o colaborador número um de João Paulo II durante todo o pontificado, ao menos a partir de 1980, que é  quando veio para Roma. Foi-lhe  portanto fácil continuar com seu próprio estilo, sua própria especificação a grande reforma, que seria agora longo de explicar, que levou a cabo João Paulo II.

-Apagar-se-á esta "popularidade" inicial do Papa Francisco?  Que acontecerá então?

-Eu penso que o grande desafio do momento, como o foi provavelmente em momentos anteriores é a grande necessidade de superar o grande vazio antropológico, ético, que em nossa época é bastante notável, o pior na história da humanidade. Existem grandes problemas éticos no mundo, mas  antes   disso existe um grande problema antropológico, e porque não sabemos quem é o ser humano: cada vez que em um congresso internacional de filosofia se fala deste tema da natureza humana ou se fala do tema da verdade, resulta que as pessoa se sentem incômodas, como se fossem dois temas que não tem nada a ver com a identidade humana. Aí está o grande déficit de nossa época.



-Valoriza-se o suficiente o magistério de João Paulo II sobre a família? A Teologia do Corpo de João Paulo II se  difundiu minimamente ao menos em ambientes católicos?

-A Familiaris Consortio, a encíclica de João Paulo II, segue sendo um grande documento sobre o amor humano. Um documento que, e a mim me surpreende, quando às vezes se viaja e se vai para universidades fora do âmbito habitual, em âmbitos sem nada  do catolicismo ou da fé cristã, vemos que continua se estudando  e  prestando-lhe  atenção porque tem uma riqueza extraordinária.

»João Paulo II, quando era ainda bispo, nem sequer cardeal, começou a elaborar sobre este tema e escreveu aquele livro estupendo que se chama Amor e Responsabilidade. O livro se difundiu mas ele mesmo, e -isto me  contou João Paulo II-,     percebeu que para entender bem Amor e Responsabilidad tinha que fazer uma reflexão sobre quem é a pessoa humana. Esse é o déficit antropológico  que me referia. Depois escreveu Pessoa e Ato, um livro muito difícil mas muito rico do  ponto de vista antropológico, não da antropologia cristã mas simplesmente antropologia, “kultur”. No fundo, precisa ser colocado com seriedade filosófica e antropológica, e ultimamente também ética, que é o amor humano;  e são esses parâmetros do amor humano que faz com que o amor humano seja distinto do amor entre animais, que seja específico do ser humano, é um grande tema em que nossa época é deficitária. No entanto  biografia para aprofundar não falta, graças a João Paulo II.

-  Pensa você que o diabo está especialmente ativo no mundo,   nos sinais dos tempos...?

- Você me está pedindo com isso quase uma profecia. Não me atreveria a entrar no terreno da profecia. O demônio está ativo como tem estado sempre e o demônio me parece um elemento honesto, como o diria, que  faz o que tem que fazer!

»O tema é se nós fazemos o que temos que fazer também. É dizer, ser cristão coerente não é fácil, mas esse fato não é nada comparado com o fato de ser uma pessoa humana: ser um homem ou uma mulher não é uma empresa fácil. O ser humano não é fabricado. Tem que fazer-se com sua liberdade, tem que aprender a manejar sua liberdade. Este é o grande desafio de todo ser humano, o que quero fazer com minha liberdade, o que quero fazer com minha vida. Podemos tratá-lo a nível teórico, acadêmico, mas o curioso de tudo isso é que cada um   tem que resolver na primeira pessoa, não se  pode dar a ninguém o resultado. O problema é se isso nos assusta. O destino do ser humano para ser livre não nos deve assustar e deve se assumir. Antes de ser uma questão ética, é uma questão antropológica.


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