Trocando de roupa para o Banquete Nupcial

Trocando de roupa para o Banquete Nupcial
Caminhada para o Céu

sábado, 24 de janeiro de 2015

Aos 9 anos, Antonija perdeu a capacidade de sentir medo. Ia à missa diariamente, detectava os espiões comunistas e dizia a eles: «Se você é muito notado, trabalha mal»

ReligionenLibertad.com

Iba a misa diaria, detectaba a los espías comunistas y les decía: «Se te nota mucho, trabajas mal»

Aos 9 anos, Antonija perdeu a capacidade de sentir medo.
Ia à missa diariamente, detectava os espiões comunistas e dizia a eles: «Se você é muito notado, trabalha mal»

A veterana atriz e diretora de teatro Antonija Apele recebeu em 1941 um dom peculiar - perdeu a capacidade de ter medo, e a de chorar

P. J. Gines/ReL - 20 janeiro 2015 - religionenliberdade.com

Antonija Apele é uma importante diretora de teatro na Lituânia, atriz veterana e trabalha –ainda depois de aposentada- na Rádio de Riga.

Tem uma característica muito especial que  marcou toda sua vida desde que os soviéticos deportaram  seu pai e quase ela também   quando tinha 9 anos: nesse 14 de junho de 1941 perdeu todo medo, e desde então não  experimentou nunca essa emoção. Também perdeu a capacidade de chorar.


Seu crime : ser inteligente
Seu pai era escritor, “amava o silêncio, passava longas horas escrevendo em seu escritório”. Sua mãe era professora, e no dia da deportação estava dando aula em outro povoado a 27 quilômetros. Eram, portanto, inteligente, ou seja, da classe letrada, não operários, automaticamente suspeitos para o sistema comunista.


A URSS tinha ocupado a Estônia, a Letônia e a Lituânia em 1940 como parte do pacto Molotov-Ribbentrop com os nazistas. No dia que Antonija perdeu o medo faltavam só  8 dias para que esse pacto acabasse e Hitler ordenasse invadir o espaço soviético pela surpresa. Mas na Rússia e na Lituânia ninguém  sabia ainda, claro, e os soviéticos se dedicavam a deportar de repente  milhares de cidadãos bálticos, especialmente das classes letradas.


Em vagões de gado, separando pais de crianças
“Chegaram à meia-noite. Disseram para nós, entre gritos e ameaças que tínhamos meia hora para recolher nossas coisas. Era uma operação medida e controlada. Eles haviam feito isso desde a meia-noite, e fomos os últimos”.

Na estação de trem da pequena cidade de Rezekne concentraram  centenas de famílias. Tinham pessoas metidas em vagões de gado que pediam água e comida porque tinham passado muitas horas fechados. Já era de noite e estavam separando as crianças dos adultos, para colocá-los em vagões diferentes.

“Separaram-me de meu pai e comecei a chorar enquanto ele tratava de infundir-me calma e serenidade com um olhar que não esquecerei jamais. Meteram-no em um dos vagões e por fim a locomotiva começou a se mover e se perdeu na escuridão entre colunas de fumaça”.

Anos depois, companheiros de seu pai contaram a Antonija como ele morreu em uma prisão da Sibéria, após suportar uma tortura atroz. “Ao escutá-los vieram aos meus olhos umas lágrimas humildes, quentes, libertadoras”. Foi a única vez que conseguiu chorar desde esse dia de 1941.

Uma salvação misteriosa

Como é que Antonija não chegou a ser encerrada em um dos vagões de crianças deportadas?

Alguns soldados decidiram jogar  um jogo macabro com ela.  Olharam-na, e ao vê-la tão pequena e magra pensaram que teria uns 6 anos, e não os 9 que realmente tinha completado. “Vamos provar   esta, o melhor tem sorte e se salva”, riram-se. E a deixaram junto à estrada dizendo-lhe: “Corre!”


Talvez eles quisessem jogar para agarrá-la, ou forçar outros membros  para correr atrás dela e fazê-los ficar mal. Mas ela correu com todas as forças de seus 9 anos e se meteu no bosque enquanto os enfurecidos guardas  a perseguiam.   Escondeu-se atrás de um arbusto, conteve a respiração… e sentiu o metal frio de uma pistola sobre sua fronte. “Se te mover te mato”, lhe disse uma voz.

E desde esse momento não recorda nada mais. Não recorda nada dos sete dias seguintes.


“Aquela semana ficou sepultada em um buraco negro em minha memória. Perguntei para muitas pessoas do povoado: não sabem nada ou fingem não saber”, explicou.

Quando abriu os olhos Antonija estaca em sua cama, com sua mãe, que se tinha salvado da deportação porque, mesmo estando nas listas, o condutor encarregado de ir  buscá-la no outro povoado a salvou dizendo aos sus superiores que não tinha gasolina para a viagem de ida e volta e estes desistiram.

A mãe foi à estação de trem mas quando chegaram os vagões tinham partido, tudo estava vazio. Voltou desolada para casa. “Nas primeiras horas da manhã escutou uns golpes na porta. Abriu e me encontrou no chão desmaiada. Quem tinha me levado até ali? Possivelmente nunca o saiba”.

“Naquele dia passei tanto medo que desde então não voltei a experimentar uma sensação de perigo ou temor”.

Um dom de Deus: não ter medo nunca

Sua mãe e sua avó perceberam. Por exemplo, a menina ia dar recados cruzando sozinha o cemitério a noite. Uma vez caiu um raio ao seu lado e nem se abalou. “Como é possível que nem sequer tenha gritado? perguntou sua avó assombrada.

Quando alguém não tem medo, não é fácil que compreenda o medo dos demais, custa mais simpatizar com eles e suas debilidades.

Na adolescência caçoava de suas amigas e seus medos. E sua mãe, boa mestra, chamou-lhe a atenção por isso:
“Como se atreve  a usar dessa maneira o dom que Deus  lhe concedeu?”, disse a ela.

Explicou que não ter medo não era um mérito seu, mas um dom concedido por Deus que devia agradecer e aproveitar.

“Para mim Deus me conserva  nesta terra para rezar pelos que se foram, e a você deu essa fortaleza para que ajude os que têm uma alma frágil. Nisso se parece  com sua avó”, disse sua mãe.

“Minha avó era uma polonesa de grande coração e uma fé tão sólida como a catedral de Riga. Todos os que a conheceram me diziam que me parecia com ela por meu caráter forte e exigente”, recorda Antonija.



Antonija Apele ainda dirige os atores da Rádio Lituânia

Não ter medo sob um regime  de terror
Ter um caráter forte e independente debaixo de uma ditadura comunista não é recomendável. Carecer de medo em uma sociedade dominada mediante o terror e a mentira, é buscar  problemas. Antonija nunca ocultou sua fé católica, e   pode se dizer que teve sorte por não sofrer mais represálias.

“Em certas obras de teatro, a maioria de meus colegas diretores  pulavam as referências a Deus e tudo o que pudesse incomodar o rrgime. Eu não, não estava disposta a trair minha fé, fosse o que fosse”.

Uma vez um comissário político ficou irritado com ela por cantar uma canção religiosa em uma representação, mas ela, furiosa, lhe respondeu: “Declamei exatamente o que vi  no script. Quer que te  ensine, camarada?”

O comissário, que não estava acostumado  encontrar resistência, prefiriu deixar  passar.

Os espiões nas paróquias
Devido a sua falta de temor e sua visão do mundo como um teatro Antonija se permitiu algumas cenas tragicômicas, próprias do mundo soviético.

Ela ia à missa  diariamente, e cada certo tempo detectaba o espião do turno que o regime  enviava a tal ou qual paróquia.

“As pessoas na missa, ao vê-lo, começavam a tremer, dissimulava e fazia o possível para passar despercebido. Os paroquianos fingiam ser turistas que tinham entrado na igreja por curiosidade. Para mim aquela situação quase me divertia. Se via um espião –dava para se notar à distância- me ajoelhava ao seu lado, fazia o sinal da cruz de forma ostensiva e lhe dizia ao ouvido enquanto me levantava: ‘Ouve, todos estão percebendo sua presença. Trabalha muito mal!’”

O espião não voltava a aparecer por ali, “talvez temendo que eu fosse de outro corpo de espionagem porque nessa época meio mundo espionava o outro meio”.

Aprender a desculpar os outros
Esta mulher sem medo e sem lágrimas, exigente diretora de teatro, de personalidade forte, era dura com os outros, e  sabia. Enfureciam-lhe as pessoas com dupla vida… que na URSS era muita gente, os que tentavam parecer por um lado comunistas exemplares e se deixavam  ver rezando na igreja, por exemplo.

Sabia que como católica devia perdoar a covardia de uns e as hipocrisias de outros, mas lhe custava. Um dia rezou para a Virgem para que lhe ajudasse a saber desculpar e ser paciente, e pouco depois conheceu um sacerdote que a animou a ir aprendendo a desculpar e perdoar pouco a pouco, não de repente.

Seu primeiro êxito consistiu em deixar de criticar e desprezar os cristãos batistas. Precisamente um batista, o que tinha mania sem nenhuma razão concreta, lhe convidou para trabalhar na rádio Começou a admirar seu conhecimento das Escrituras e outras virtudes. “Senti como se a Virgem me dissesse: deixa de murmurar e de brigar com seus irmãos cristãos e começa a compreendê-los. A partir de então deixei de etiquetar as pessoas”.

Também desde esse momento começou a ser mais amável e compreensiva com os atores, e especialmente com as atrizes,  que dirigia. “Para ser exigente não precisa gritar, nem humilhar, nem ferir”, aprendeu.

Antonija Apele contou seu testemunho no interessante livro de testemunhos de José Miguel Cejas "O baile após a tormenta" (Rialp)

Um vídeo dos afazeres de Antonija Apele na Rádio Lituânia

Gostou desse artigo? Comente-o com teus amigos e conhecidos:

http://religionenlibertad.com/iba-a-misa-diaria-detectaba-a-los-espias-comunistas-y-les-40070.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário