Trocando de roupa para o Banquete Nupcial

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Caminhada para o Céu

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Os pais de hoje são demasiado democratas.


 

O autoritarismo é tão pernicioso como a ausência de autoridade:
há situações nas quais os pais devem saber dizer: Não! E que esse "não" seja inegociável, firme, dogma. Os padres devem ter a autoridade de impor quando algo não vai bem. E não ceder nessas coisas importantes. Isso faz o pai excelente aos olhos do filho. Os pais se passam hoje como democratas...

Conheci  Andrea Fiorenza faz um par de anos, e me deslumbrou sua sutileza no trato dos conflitos da psique humana. Especializou-se no emaranhado cosmos da família, nos problemas dos filhos. Resolve-os de modo que parece mágico, mas não o é: aplica os princípios da terapia breve estratégica. É breve porque resolve os problemas em um curto espaço de tempo, em poucas sessões; é estratégica porque os aborda promovendo mudanças colaterais, aparentemente longe do problema central... Mas uma pequena mudança desencadeia outras.

-Sobre os filhos: o que  é o que mais preocupa hoje os pais?
-Seu rendimento escolar e suas companhias.

-O mesmo que sempre tem preocupado, não?
-Não: antes os padres não estavam tão preocupados com seus filhos. Agora estão focados neles!

-O que tem causado tal mudança?
-Uma mudança radical da organização social: antes era mais hierárquica, piramidal, e por isso tinha maior distância emocional entre pais e filhos. Na geração anterior à sua e a minha, os filhos se dirigiam aos pais de 'senhor'(a). Mas hoje a organização social é menos hierárquica, é mais horizontal, democrática. Há maior proximidade emocional e, por isso, menor solidez dos papéis de pai e de filho. A confusão de papéis causa disfunções: o pai atua quase como amigo do filho, os filhos atuam quase como pais de seus pais. Os filhos aconselham  seus pais como vestir-se, e os pais obedecem, ou os filhos decidem as férias de verão de toda a família.

-Porque há diálogo: bem, não?
-Se só há diálogo... não basta para que tudo funcione bem. Falta autoridade. Se tudo é relativo e dialogável, o filho perde pontos sólidos de referência, fica sem direção, e isso lhe gera ansiedade. É inevitável. A autoridade é necessária.

-Não exagera?
-Não. O autoritarismo é tão pernicioso como a ausência de autoridade: há situações nas quais os pais devem saber dizer: Não! E que esse "não" seja inegociável, firme, dogma. Os pais devem ter autoridade de impor quando algo não vai bem. E não ceder nessas coisas importantes. Isso faz o pai parecer excelente aos olhos do filho. Os pais são hoje muito democratas. Tanta democracia familiar cria disfunções de conduta. Eu dou mil horas de terapia por ano faz vinte anos. E cada dia vejo mais problemas derivados de pais demasiado focados em seus filhos... e tudo porque querem que sejam perfeitos. Vejo casos de pais que pedem trocas de horário de trabalho em sua empresa para estar em casa e fazer os deveres escolares com seus filhos. Isso não é ajudar-lhes! Fazem os deveres com seus filhos ou seja, os fazem eles, os pais. Quando vêm esses pais ao meu consultório, lhes pergunto:  Como foi este mês? Aprovaram-te ou te  suspenderam? A qual universidade irás com teu filho? O problema é que os pais não aceitam a idéia de que seu filho possa ir mal na escola. E intervêm eles. E, ao intervir,  não incentivam  seu filho: o menino  se acomoda a isso, não desenvolve sua capacidade de iniciativa, de reação diante das  dificuldades, de capacidade de esforço... Um desastre!

-Tenho filhos pequenos. Como devo atuar para não acabar assim?
-Sem sustituir a criança. Se o faz, só conseguirá anular-lhe. O princípio geral no trato com seus filhos deveria ser este: Observá-lo sem intervir, ter paciência, dar-lhe tempo, esperar  que ele sozinho ache as soluções aos problemas. Mas sem dizer-le: Seja responsável. Isso é anti-natural. Só dê-lhe tempo para que seja ele que, chegada a situação, lhe peça ajuda. Se ages antes, tira seu ânimo, sua vontade. A boa intenção dos pais só prejudica os filhos. Querem fomentar sua auto-estima, e ficam obcecados demasiado: a ver, todos temos maior grau de auto-estima em uns aspectos e menor em outros, não? Pois fiquem tranquilos!

-Suas terapias devem ser muito solicitadas nas escolas.
-Se em classe um professor pergunta: Quem sabe em que ano se descobriu a América? Uns levantarão a mão e outros não. Creio que é melhor dizer-lhes: Escrevam todos num papelzinho o ano do descobrimento da América. Quando o fizerem, o professor diz: 1492. Aquele que acertou, confirmará que sabia, e o que não acertou, constatará seu erro, e o recordará.

-Isso em classe. Mas, e em casa?
-Diga à criança: Concedo-te meia hora para os deveres, ou para estudar, e só meia hora! Das 19 às 19,30 horas, por exemplo. Com despertador: quando se completou o tempo,  acabou. Fim. Os limites dão valor ao que sucede dentro deles.

- Tratou algum caso real assim? Com êxito?
-Certo menino tinha dificuldades de atenção. Dedicava duas horas cada tarde ao estudo, com muito poucos frutos. Ordenei-lhe: Só meia hora de estudo, com aviso de um despertador! Depois, nada de estudar: estás livre. Rendia mais nessa meia hora que antes em duas horas. Pouco depois, me rogava que lhe ampliasse um pouco o espaço de tempo.

-Conte-me algum caso que tenha atendido recentemente.
-O de um menino de nove anos que gaguejava: seu pai o levou aos melhores especialistas de toda Itália... e o menino piorava. Determinei que deixassem de levá-lo a especialistas e de submetê-lo a exercícios. Porque a atenção dos pais, o sentir-se tão observado por eles, o bloqueava mais e mais. Não lhe digais nada sobre isso, lhes ordenei. E aí começou a melhora do menino. Há uma história que ilustra este caso: uma centopéia caminhava sem problemas até que uma lagarta lhe disse: É incrível como caminhas tão bem sem tropeçar, com tantos pés! A centopéia começou a prestar atenção aos seus pés e a querer controlá-los e tropeçou! Isso acontecia com esse menino. O que era só um pequeno problema no princípio se tratou mal... e acabou convertendo-se em gagueira. Se tentas controlar a linguagem,  bloqueia... Depois estabeleci só 15 minutos ao dia de exercícios controlados. No resto do tempo, nada.

-O mal dos filhos é que não obedecem...
-Porque se dão ordens mal. Tem que ser claros os objetivos. Os pais são muito confusos em seus objetivos: querem que seus filhos se portem bem e estejam contentes. Que objetivos tão difusos! Aconselho três objetivos claros, capitais. Um: que a criança cumpra suas obrigações (assear-se, ir à escola...); dois: que respeite os pais (não insultá-los nem ofendê-los), e três: que colabore na comunidade familiar ( servir a mesa,  fazer camas... Que se sinta parte do grupo, com seus direitos e obrigações). Basta  ter claro isto. Os pais querem que os filhos façam tudo com gosto, inclusive coisas que desgostam, e isso é impossível. Ninguém gosta de fazer certas coisas. Mas há que fazê-las! Atravessar dificuldades estimula a criança,  ajuda a crescer bem. Oxalá seu filho tenha alguma dificuldade cada dia! E, se não, ponha-lhe você uma diariamente.

-Você intitula seu livro: "Crianças e adolescentes difíceis". O que é ser difícil?
-Explico que é uma etiqueta que se lhes põe: não existen crianças ou adolescentes difíceis, más, enfermas... Só disfunções relacionadas. Ao querer curar ou controlar a criança difícil, o problema inicial piora. E disfunções leves se convertem em pouco tempo em problemas complicados.

-Que fazer quando surge esse problema simples?
-Eu localizo em que ponto se bloqueou a relação familiar, e introduzo aí uma pequena mudança de comportamento. Esta pequena mudança relacionada desencadeará uma cadeia de mudanças que fará que o conflito se dissolva só.

-Um exemplo.
-Luca era um menino que cada manhã chorava ao ir ao colégio, com as consequentes cenas de separação dramática diante da porta da escola. A mãe, de noite, lhe perguntava de seus medos, lhe dava ânimos. O pai, pela manhã, no carro, tentava tranquilizá-lo,  prestava-lhe muita atenção... Ordenei-lhes isto: Deveis começar a agir como se vosso filho não chorasse de manhã, como se tudo fosse bem. E lhes disse que, pela manhã, em casa, dissessem ao menino: Querido Luca, para ti queixar-te é muito importante, e por isso te pedimos que o faças agora, durante 15 minutos. Estaremos aqui calados, escutando-te. Por favor, comece a chorar. A criança respondeu que não tinha vontade de chorar, que queria brincar, e a chegar ao colégio foi correndo  sozinho escadas acima. Só introduzi uma pequena mudança relacionada a pais-filho. Quando depois perguntei aos pais: Que deveríeis fazer agora para estragar esta conquista? Falaram muito claro: Voltar a prestar a Luca todas as atenções e a tranquilizá-lo como antes, a comportar-nos com ele como se fosse ter medo de separar-se de nós. Entenderam-no. Caso resolvido.

Fonte:
http://www.solidaridad.net/vernoticia.asp?noticia=2457

Fonte: www.aciprensa.com

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