Trocando de roupa para o Banquete Nupcial

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Caminhada para o Céu

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

De caminho para o convento e com esse desejo ardente de ser admitido, acompanhou os missionários.



CAPÍTULO IV 

De caminho para o convento 

Não muito depois o santo jovem começou novamente a sentir o desejo ardente de abandonar o mundo e dedicar-se, na mais completa solidão, à penitência, meditação e trabalho manual como os anacoretas de outrora. A solidão parecia-lhe uma compensação da vida do convento, no qual não tinha esperança de ser admitido. A sua saúde não melhorara nos últimos anos, antes enfraquecera-se ainda mais devido às mortificações constantes; por isso temia com razão encontrar fechada a porta, se tentasse bater uma terceira vez. 

Na solidão, pensava ele, não encontraria empecilhos, apesar de sua constituição franzina; lá não seria pesado a ninguém e poderia, não obstante, levar a vida sacrificada de um religioso. Resolveu-se pois abraçar a vida de eremita. Não sabemos se para isso recebeu o consentimento de seu confessor, provavelmente era sua intenção tentar primeiro, para depois fazer o pedido definitivo, caso se saíssem bem. 

Geraldo escolheu para esse novo gênero de vida, uma floresta pouco distante da cidade, numa região montanhosa; levou consigo um amigo que compartilhava dos mesmos sentimentos. Providos de pouca roupa, os dois jovens partira de Muro, no dia para isso determinado, caminho à floresta solitária,  onde encetaram imediatamente a vida eremita em todo o seu rigor. A regra, que pretendiam observar, era austeríssima, não indigna dos padres do deserto. O dia era todo consagrado ao trabalho manual, aos exercícios de piedade e a um colóquio edificante; a noite ficava reservada para a meditação e as duras penitências. Poucas horas sobravam para o sono, que passavam não em cômodos leitos sob confortável teto, mas, quanto possível, ao relento. A respeito da alimentação reinava a mais completa frugalidade. Para fiel imitação dos antigos ermitães, que viviam de raízes e ervas silvestres, resolveram tomar por prato regular os morangos, raízes e ervas da floresta. 
Embora a vontade dos dois ermitães fosse igualmente boa, não era igual nos dois a força para executá-la. Três ou quatro dias bastaram para desanimar o companheiro, que achou melhor voltar para casa. Geraldo, habituado desde a infância aos jejuns rigorosos e às austeras penitências, não querendo acompanhá-lo, ficou sozinho na floresta, contente pela solidão ainda mais completa, embora sentindo pela perda do seu amigo. — Com isso tinha ele ocasião de se entregar a Deus e à meditação mais desimpedidamente. Essa vida contemplativa na solidão eram as delícias da alma privilegiada de Geraldo, que a teria prosseguido até o fim de seus dias, se Deus assim tivesse disposto. 

Porém poucos dias depois o confessor deu-lhe ordem terminante de abandonar a floresta e voltar para a casa de sua mãe e para o seu ofício. Na palavra do confessor viu a voz de Deus; submeteu-se com habitual prontidão e regressou à casa para se dedicar aos trabalhos da oficina. 

A sua vida no mundo dos dois anos antes de ingressar na Congregação, não se diferenciou da que levou na solidão; conservou sempre o mesmo fervor no serviço divino e na prática da caridade, a mesma obediência, a mesma conscienciosidade, a mesma humildade; só o seu zelo se incrementou e intensificou ainda mais. Se antes procurava promover a glória de Deus por meio dos sofrimentos e torturas de toda a sorte suportadas com resignação, agora empenhava-se em difundi-la e comunicá-la aos homens ativa e eficazmente. 

Desta vez dedicou às crianças toda a sua solicitude; reunia-as freqüentemente , falava-lhes com eloquência simples e atraente de Deus e das coisas divinas e afastava-as das más companhias por meio de divertimentos inocentes. Por vezes saía com elas em romaria à igreja de Capotignano, ou fazia excursões ao antigo templo dedicado a São Leão, onde instruía os maiores nas verdades da religião e ensinava aos menores o sinal da cruz, o Padre Nosso e noutras orações a Jesus e Maria. 

O santo jovem era apostolo não só fora, mas também dentro de casa para sua mãe e irmãs; recomendava-lhes com argumentos persuasivos o amor a Jesus, e a recepção freqüente dos santos sacramentos. Muitas vezes repetia-lhes as palavras que costumava dizer outrora aos seus companheiros de divertimentos infantis: 

“Vamos visitar Jesus, o prisioneiro dos nossos tabernáculos”. Instruindo, animando e exortando insinuava às irmãs a prática constante das santas virtudes, e quando necessário, não hesitava em censurá-las e repreendê-las com toda a franqueza. Uma das suas irmãs parecia inclinada à vaidade e ao desejo de exibição, procurando vestidos novos e usando outros meios de chamar a atenção. Geraldo não podia aprovar esse procedimento; numa dada ocasião apostrofou-a com doçura e energia: “Minha irmã, lance ao fogo essas futilidades!” 

De seu amor sempre crescente a Jesus Crucificado temos uma prova no fato que se deu no princípio da quaresma de 1749. Em Muro era costume exibir-se de tempo em tempo ao público, em quadros vivos, a história da Paixão. Essas representações tinham lugar na catedral; pessoas piedosas sentiam-se honradas quando escolhidas para representar um papel qualquer nessas ocasiões. Indizível foi a alegria de Geraldo ao receber convite, nesse ano, para fazer as vezes de Jesus Crucificado. No dia aprazado, ao começar a representação, o Servo de Deus mandou-se atar à cruz rogando aos que faziam as vezes dos carrascos que o tratassem com toda a crueldade possível; parecia ter-se esquecido completamente de que não se tratava ali de torturas, mas apenas de representação. 

Como já o conheciam, prometeram satisfazer-lhe a vontade, de sorte que ele apareceu na cruz num estado realmente lamentável. Impressão profunda causou ao público a vista do  santo jovem estendido sobre a cruz, em cujo rosto contemplavam todos a placidez piedosa e santa bem como a dor suportada em indescritível prazer; muitos choraram de comoção, como se visse o próprio Cristo crucificado. 

A mãe de Geraldo, que fora assistir o espetáculo, sem saber que seu filho lá teria o papel principal, ficou tão assustada e compadecida que perdeu os sentidos; Geraldo porém sentia-se inunda-do de prazer. Mais tarde ao voltar para casa, consolou os seus asseverando não ter sido nada aquilo, porquanto desejava sofrer por Jesus Cristo. 

Almas que sentem necessidade de sofrimento, Deus costuma glorificá-la aos olhos do mundo na medida das suas dores. Já temos visto que o carisma dos milagres acompanhava Geraldo desde a infância e o tempo de aprendizagem. Agora porém revelou-se ainda mais admirável. Alguns dos milagres operados por Geraldo em Muro nessa época de sua vida imprimiram-se tão profundamente na memória de todos, que podemos narrá-los com todos os pormenores sem medo de engano ou erro. 

Grande assombro causou aos moradores de Muro o milagre seguinte atestado por testemunhas de toda a confiança. Um dia passou o santo por um lugar onde se achava um prédio de construção e encontrou os operários de péssimo humor. Ao cortarem as vigas destinadas à construção, erraram no cálculo de sorte que elas não alcançaram de uma parede à outra. Geraldo informado do ocorrido sentiu compaixão e pediu a Deus tivesse dó dos construtores. 

Em seguida mandou que tornassem a experimentar as vigas e as colocassem no seu lugar. Todos sabiam que Geraldo possuía força sobrenatural e que falava por inspiração divina; os construtores executaram à risca as ordens do santo, e — o milagre — as vigas alongaram-se prodigiosamente pela oração de Geraldo. 

Uma outra vez Geraldo encontrou-se com uma senhora, por nome Juliana, triste e aflita à porta da casa. Tinha nos braços o filhinho Amato que gritava de dor; o pobrezinho caíra na água fervente e queimara-se nos braços e no peito. De nada valeram o óleo e a cera que a mãe despejara sobre as feridas. As dores da criança e o sofrimento da mãe enterneceram o coração de Geraldo; parou um instante, colocou a mão sobre o peito da criança e fez sobre ela o sinal da cruz. Após vinte e quatro horas Amato estava “fresco” e sadio como antes. 

A senhora Manoela Vetromile, que já conhecemos como protetora de Geraldo, tinha em casa uma moça, parenta sua, por nome Ursula, a quem muito estimava por causa das suas excelentes qualidades como empregada de família. Essa jovem foi atacada de uma enfermidade crônica que zombava de todos os remédios e recursos médicos. Orçou definhava visivelmente, sendo por fim desenganada dos mais peritos médicos. Vetromile desolada, não encontrando mais remédios sobre a terra, recorreu à proteção do céu.

 Ia à igreja dos padres conventuais pedir a Santo Antônio a conservação e a saúde da sua empregada, quando se encontrou com Geraldo. Ao perceber as lágrimas nos olhos da senhora e o abati-mento em que se achava, perguntou-lhe o motivo da tristeza. Ao ouvir as queixas da pobre senhora e a causa porque se dirigia à igreja, o santo jovem consolou-a, mandou-a regressar para casa e fazer três vezes o sinal da cruz sobre a fronte da moça; “com isso, disse ele, a empregada ficará curada”. 

A senhora, cheia de fé, executou as ordens de Geraldo. Mal acabara ela de fazer as cruzes, a moribunda recuperou nova vida e, com admiração dos médicos e de toda a cidade de Muro, levantou-se completamente restabelecida. 

Aproximava-se, entretanto, o momento em que se deveria realizar o mais ardente desejo de Geraldo, isto é, de entrar no porto seguro da vida religiosa. A Congregação, para qual Deus o destinara como um dos seus primeiros e mais belos ornamentos, crescia, já há alguns anos, viçosa e pujante, combatida de tempestades violentas mas visivelmente amparada pela mão da Providência. 

Era a Congregação do Santíssimo Redentor. Geraldo tinha apenas seis a-nos de idade quando Santo Afonso de Ligório a fundou para a salvação de milhares de almas. Conforta-do pelos conselhos de homens sábios e santos abrira a primeira casa em Scala, levando de vencida os obstáculos sem número que lhe embargavam os   
passos; pouco tempo depois veio a fundação de Ciorani e não muito depois a de Nocera e de Iliceto. 

Aos poucos associou-se ao venerando fundador uma valorosa plêiade de sacerdotes e leigos que, animados do seu espírito, começaram a realizar os planos por ele idealizados. A obra das missões crescia dia a dia em importância; Afonso não tardou em ser conhecido e querido como um verdadeiro apóstolo e amigo dos pobres. Multiplicavam-se as maravilhas do amor e do zelo de um lado, e os milagres da graça e da conversão do outro. 

Os mais eminentes prelados notavam com alegria as expansões da novel Congregação; não só confiavam-lhe a pregação de missões e outros trabalhos apostólicos, mas empenhavam-se ainda em obter para suas dioceses casas do Instituto. Ao número desses amigos pertencia o arcebispo Nicolau de Conza, que, encantado por uma missão pregada sob a direção de Afonso em Caposele no mês de maio de 1746, ofereceu ao santo fundador, ainda nesse mesmo ano, o santuário de Mater Domini nas vizinhanças da referida localidade. Afonso aceitou a oferta. 

Vinte anos antes, esse santuário fora oferecido ao santo provincial dos alcantarinos João José da Cruz, que recusou a oferta com a declaração de que não era a vontade de Deus que os seus religiosos entrassem naquele santuário, porque, vinte anos mais tarde, chegariam outros que se incumbiriam de promover com zelo a glória de Deus e o bem das almas.  

Para primeiro superior da nova fundação designou Afonso em fins de 1747 o seu fiel companheiro Pe. César Sportelli, que possuía de modo eminente a virtude mais necessária para a fundação de um convento: irrestrita confiança na Providência divina. 

Embora os moradores de Caposele tentassem o impossível para levantar o convento e garantir a estabilidade da fundação, não o conseguiram pela absoluta falta de recursos. Os padres foram constrangidos a valer-se das esmolas dos fiéis das cidades e dioceses vizinhas para a construção do prédio; para isso muniram-se de uma carta de recomendação lavrada pelo próprio punho do arcebispo de Conza. O Pe. Francisco Garzilli, acompanhado do Irmão Onofre, recebeu a incumbência de fazer o peditório. 

Em agosto de 1748 chegaram ambos à cidade natal de nosso Geraldo; foram os primeiros redentoristas, que lá apareceram. Já de primeira vista Geral-do, sentindo-se irresistivelmente atraído para eles, procurou chegar-se a esses religiosos e pôr-se em contato com eles. Era a simpatia da vocação. Geraldo sentia que vinha do céu essa sua aspiração e não hesitou em segui-la. Aproximou-se do Irmão Onofre, fez-lhe perguntas sobre a vida na Congregação e os exercícios de piedade e mortificações, por fim manifestou-lhe o irresistível desejo que tinha de entrar como irmão leigo. Onofre o pôs ao par de tudo, acrescentando porém que devia desistir do desejo de entrar no Instituto. “A nossa Congregação, disse ele, não é para vós, entre nós vive-se com muito rigor e   sofre-se excessivamente”. Onofre não conhecia quem se achava diante dele. Geraldo replicou-lhe com viva alegria: “É justamente isso que eu procuro”. 

Embora o servo de Deus só tivesse recebido informações satisfatórias, não se atreveu a ir além, seja porque ainda lembrava vivamente da repulsa dos capuchinhos seja porque desejava submeter a uma nova prova a sua inclinação. Orou muito e não tardou a convencer-se de que aquela inclinação era a expressão da vontade divina. Quando pela Páscoa do ano seguinte os padres voltaram a Muro para uma missão, o servo de Deus já tinha clareza completa sobre a sua vocação. 

Toda a população de Muro tomou parte ativa na missão, sobretudo Geraldo que, diariamente, se postava debaixo do púlpito a ouvir com religiosa atenção as palavras de fogo, mormente as do Pe. Paulo Cafaro, superior da missão. 

Esse sacerdote, então reitor em Caposele, era o homem capaz de atrair a um santo como o nosso Geraldo. Munido do dom da eloquência apostólica, experimentado na ciência dos santos, dotado de um espírito muito bem caracterizado pelas palavras “ó morte, ó eternidade”, que repetidas vezes saíam de seus lábios, pregava as verdades da religião com expressão e unção produzindo nos extraviados o desejo de conversão e nos inocentes a resolução de servir a Deus com a mais completa dedicação e humilde obediência. 

Geraldo estava todo encantado. Os dias da missão correram perfeitamente de acordo com os seus desejos: os seus frutos foram abundantes, operando-se nela a salvação de muitas almas; despertou-se novo fervor, o inimigo teve a sua derrota e a graça a sua vitória. 

Dessa missão conservou-se na memória de to-dos um fato que nos mostra claramente o espírito penitente de Geraldo. Entre os exercícios usuais nas missões de então destacava-se a flagelação. Depois dos primeiros dias, preparados os ânimos para a contrição, reuniam-se homens na igreja no fim da pregação, e punha-se em prática o supracitado exercício. É claro que Geraldo lá não faltava, mas ao lado dele também se achavam outros, levados não pela sinceridade, mas pela maldade do coração. 

Eram dois rapazes que se aproveitaram da ocasião para maltratar o servo de Deus. Postados bem atrás dele, depois de apagadas as luzes e começado a flagelação, açoitavam com indizível crueldade as costas do inocente jovem. Geraldo tinha direito de se queixar desse pro-cedimento inconveniente, mas preferiu calar-se e, sem mudar de lugar, suportou ainda por quatro ou cinco dias a rudeza daqueles rapazes atrevidos e maldosos. 

Tomou a resolução de ingressar quanto antes na Congregação do Santíssimo Redentor, quis arrastar todos os obstáculos não descansando enquanto estes não fossem afastados. Durante a missão chegou-se aos missionários e procurou prestar-lhes peque-nos serviços. No fim dela deu aos pobres o pouco que possuía para poder entrar, desprovido de tudo,  no estado de perfeição. Abriu-se afinal ao Pe. Paulo Cafaro, superior da missão, e declarou-lhe o desejo ardente que tinha de acompanhá-lo como irmão leigo da sua Congregação. Fácil era convencer-se da sinceridade de Geraldo e da sua piedade, mas difícil acreditar na sua vocação; a sua excessiva fraqueza contrastava demais como estado de irmão leigo. 

A resposta do Pe. Cafaro foi negativa, fazendo-o desistir do pensamento de entrar na Congregação. Embora o conselho fosse razoável, Geraldo, não podendo resistir à voz do céu, prorrompeu em prantos, porém em vão. Voltou uma e mais vezes aos missionários com o mesmo pedido, conjurou-os a que o recebessem ao menos a título de experiência e não desanimou diante das respostas sempre negativas. 

A mãe ficou sabendo do intento do filho; este mesmo lho manifestou quando interrogado pelo motivo da sua tristeza. Foi uma nova tempestade que desabou sobre ele. A mãe, embora piedosa e temente a Deus, não podia suportar o pensamento da separação de seu filho. Subjugada pela voz da natureza fez o que pôde para frustrar o plano do jovem e impedir a realização do seu intento. 

Começou a combater o coração de Geraldo com as armas da ternura maternal; com lágrimas nos olhos e voz entrecortada de soluços pediu-lhe não a abandonasse, pois que mesmo no mundo ele podia amar e servir a Deus, e que se recordasse do dever que tinha de ampará-la. Com a mãe pediam e choravam as irmãs, de sorte que o moço ficou de fato embaraçado. 

Geraldo era  muito afeiçoado aos seus, porém amava incomparavelmente mais a Jesus que dele exigia abandonasse a casa, mãe e irmãs para se entregar sem reserva. Abafava pois todos os sentimentos naturais e procurava consolar a mãe e as irmãs convencendo-as de que não poderia agir de outra forma. Entre outras coisas dizia ele: “Tenho de procurar-me um lugar onde eu possa dizer com verdade: aqui sou todo para Deus, que exige o sacrifício de todos os sentimentos do meu coração”. 

Inconsolável pelo fracasso de suas súplicas e lá-grimas, a mãe foi ter com o Padre Cafaro para que não aceitasse seu filho na Congregação. O amor, que consagrava a Geraldo, tornou-a eloquente, mas o excesso da afeição fê-la exagerar. Pintou com as mais vivas cores a sua pobreza e a necessidade de amparo por parte do filho, esforçou-se para demonstrar o inconveniente da resolução de Geraldo e, com suas lágrimas tentou bandear os missionários para o seu lado. 

O Pe. Cafaro não precisava desses motivos nem dessas lágrimas; ele nem cogitara de aceitar a Geraldo; ao contrário estava resolvido a resistir as importunações dele; pôde pois consolar a mãe chorosa e despachá-la com a declaração de que absolutamente não tencionava admitir Geraldo na Congregação. Sabendo porém a resolução inabalável que o moço tinha de associar-se aos missionários, aconselhou à mãe que não deixasse Geraldo sair de casa na hora da despedida.

Esse conselho foi seguido à risca; na hora da partida dos missionários, Geraldo estava preso dentro do quarto no lar materno. Mas que pode a prudência humana contra o amor engenhoso e ousado dos santos? 

Mal se tinham posto os missionários a caminho para Rionero, onde iam abrir a missão, ouviram a voz de um jovem que lhes corria atrás e chamava: “Esperai, meus padres, esperai que eu vou”. Supunham ser uma ilusão, mas era a pura realidade, era a voz de Geraldo que corria, a bom correr, a seu encontro. 

Achara um meio de evadir-se da prisão: serviu-se do lençol da cama para se escapar pela janela sem ser percebido por ninguém. Em uma carta anunciou a sua fuga com a observação de que iria tornar-se um santo e pedia aos seus que se não lembrassem mais dele. O Pe. Cafaro e seus confrades estavam pasmos diante daquele procedimento heróico do jovem Majella, e cheios de compaixão por tê-lo de rejeitar mais uma vez, porquanto não ignoravam o motivo porque vinha. E de fato o Pe. Cafaro não o quis aceitar e despachou-o novamente para Muro; mas o santo não se perturbou e chorando continuou a pedir: “Experimentai-me primeiro, e se eu não servir, despachai-me”. 

Com esse desejo ardente de ser admitido, acompanhou os missionários até Rionero, onde renovou com insistência e lágrimas o seu pedido ao superior dos missionários. Continuou assim nos dias seguintes, esperançoso sempre, porém sempre rejeitado,  
até que por fim se lançou aos pés do Pe. Cafaro com humildade capaz de enternecer os rochedos. “Meu padre, se me não aceitardes entre os vossos irmãos, ver-me-eis todos os dias entre os pobres à porta do convento a pedir esmola; mas eu peço encarecida-mente, que me experimenteis; se eu for julgado inepto para o serviço, despedi-me definitivamente”. 

Essa linguagem modesta e resoluta subjugou o Pe. Cafaro; embora não convencido da aptidão de Geraldo para a vida de irmão leigo, achou bom ceder de algum modo às suas instâncias para não ferir ao extremo tão nobre coração. Admitiu o santo jovem para a prova desejada e escreveu ao Pe. Lourenço d’Antonio, reitor de Iliceto, estas poucas linhas: “Envio-vos um irmão inteiramente inútil para o trabalho por ser muito fraco de compleição, não pude rejeitar incondicionalmente a sua admissão por causa das instâncias reiteradas a mim feitas e da consideração em que ele é tido em Muro”. 

Essa cartinha, pouco recomendável, inundou de contentamento indescritível a Geraldo que a recebeu com a ordem de se dirigir ao convento de Iliceto. Parecia-lhe um passaporte para o paraíso.  

A VIDA DE SÃO GERALDO MAGELA

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