Trocando de roupa para o Banquete Nupcial

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Caminhada para o Céu

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A vizinhança do servo de Deus incomodou os demônios, que clamaram em alta voz: “Que homem é esse que nos persegue em toda parte?”



A VIDA PRODIGIOSA DE SÃO GERALDO MAGELA

CAPÍTULO XI 
   
O anjo da paz em Castelgrande 

O irmão Geraldo voltou de Corato a Iliceto em 24 de abril de 1753 e passou o mês de maio em sua querida cela — exceto uns dias, que esteve a negócios em Atella. Em junho o encontramos novamente fora de casa por longo tempo, em Castelgrande, lugar não muito distante de Muro.

Nessa cidade a casa de um tal Marcos Carusi tornara-se, desde longo tempo, sede de um ódio profundo e prejudicial. Um dos filhos do proprietário, de vinte anos de idade, tivera, tempos atrás, uma forte discussão com o tabelião Martinho Carusi, provavelmente da mesma família, o qual o assassinou. Os pais da vítima ficaram odiando de morte o assassino, não querendo nem ouvir falar de reconciliação. Em vão esforçaram-se os parentes do criminoso para afastar o escândalo produzido pela inimizade. Marcos Carusi e sua senhora permaneceram inabalavelmente surdos aos motivos e súplicas, pois que a dor da perda do filho insensibilizara-lhes o coração para tudo, menos para a vingança. Temia-se com fundamento, que o mal, já tão grande em si, produzisse resultados ainda maiores e mais abomináveis.

Diante dessa triste situação, lembraram-se do santo e pediram ao Pe. Fiocchi o enviasse a Castelgrande para se efetuar a reconciliação.
A súplica teria sido certamente indeferida, se o Pe. Cafaro não tivesse intervindo poderosamente a favor. Em uma missão pregada em Guardia, tivera ocasião de conhecer de perto o estado desesperador da causa e por isso, em uma carta enviada ao Pe. Fiocchi expôs a sua opinião e determinou-o a enviar, sem demora, o Irmão Geraldo a Castelgrande.

Geraldo para lá se dirigiu em companhia do Irmão Francisco Fiore.
O calor abrasador e a grande distância castigaram os viandantes, que por amor de Deus tudo suportaram sem se intimidar com as dificuldades.
Com o fim de começar bem a delicada e difícil questão da reconciliação, Geraldo procurou ter uma entrevista com a família ofendida, o que lhe foi fácil conseguir; na hora aprazada Geraldo lá estava com Marcos Carusi.

A oração do Irmão Francisco produziu efeito; tudo correu bem. Já na primeira entrevista com o pai da vítima conseguiu Geraldo fazer leve alusão a uma possível reconciliação. Carusi naturalmente não se deixara ainda convencer, porém a exacerbação antiga extinguiu-se, de sorte que Geraldo pôde despedir-se com a esperança de mover o desditoso pai ao sacrifício que dele exigiam a caridade cristã e a verdadeira honra.

E de fato, na segunda entrevista conseguiu o santo completa vitória; Marcos Carusi declarou-se pronto a perdoar ao assassino do seu filho, a dar-lhe a mão e esquecer tudo. A coisa parecia terminada, restando apenas o ato solene da reconciliação.

Geraldo julgou poder visitar entretanto a sua terra natal que pouco distava, a pedido de uns amigos. Confiando a seu amigo Frederico, em cuja casa se hospedara, os últimos e necessários preparativos para a solene reconciliação, deixou Castelgrande e dirigiu-se a Muro.
A sua estada lá foi breve, porém não sem frutos espirituais nem sem milagres.
O bispo Vito Mujo adoecera por aquela ocasião; Geraldo encontrou-o com reumatismo, atacado de dores agudas nas mãos e nos pés. Ao receber sua visita sentiu o bispo indizível alegria; entreteve-se com ele e pediu-lhe orações.
“Irmão Geraldo, disse, pedi a Deus que me livre destas dores”. — “Excelentíssimo Senhor, respondeu o santo, suportai com paciência as dores; a libertação delas não contribuiria para a glória de Deus; sem esses sofrimentos. V. Excia. não se salvaria”.

Em uma segunda visita ao santo, encontrou-o mais doente ainda. “Oh! como sois feliz, Excia. por poderdes sofrer tanto por amor de Jesus Cristo! e eu nada sofro!” Essas palavras consolaram o enfermo e agradaram-lhe tanto, que ficaram indelevelmente gravadas em sua memória.

Graças especial foi a visita de Geraldo em Muro para a senhora de Alexandre Piccolo, em cuja casa o santo se hospedara. Catarina — assim se chamava — vivia, há muitos anos, em estado de pecado; parecia-lhe impossível revelar o seu íntimo no tribunal da penitência. — Em sua primeira visita em Muro, Geraldo nada lhe havia dito a respeito; é que não havia soado, ainda, a hora da graça. Iluminado pelo céu, reconheceu Geraldo o triste estado de Catarina; chamou-a, descobriu-lhe o pecado há tanto tempo ocultado na confissão e admoestou-a insistentemente a se confessar sinceramente para não cair na condenação eterna.

“Confessai-vos e preparai-vos para a morte, disse-lhe o santo, pois que em breve tereis de comparecer na presença de Deus”. E de fato, Catarina, então no gozo de vigorosa saúde, adoeceu e faleceu dias depois, após sincera e contrita confissão.
Entretanto em Castelgrande o demônio agitava-se de todas as formas para destruir a obra de reconciliação tão bem iniciada e quase terminada por Geraldo. Serviu-se da ausência do irmão para dissipar as boas impressões produzidas no coração de Marcos Carusi e demovê-lo da resolução tomada. De instrumento serviu-lhe a esposa de Carusi. O demônio, conhecedor do coração materno, da sua fraqueza e sensibilidade, inflamou-o de novo ódio, acendendo nela a sede da vingança; a mulher exacerbou-se ainda mais por perceber no esposo o desejo da paz e reconciliação.

Vendo que Marcos estava disposto ao perdão concebeu, em sua fúria, um ardil com o qual ninguém contava. Com a roupa ensangüentada da vítima, que guardava qual jóia preciosa, e acompanhada das filhas que participavam do ódio da mãe, apresentou-se a seu esposo, mostrando-lhe as vestes ensangüentadas.
“Eis aqui, gritou furiosa, eis aqui as veste, ainda rubras, do teu filho; contempla-as e depois vai reconciliar-te com o assassino! o sangue do teu filho reclama inimizade eterna, pede vingança, e tu preparas-te para abraçá-lo?! Os rogos de uma mãe desesperada acharão ainda alguém que lhe vingue o filho”.

Diante desta explosão apaixonada não podia permanecer insensível um coração, há pouco curado da mesma paixão e que ainda se agitava, embora mais tranqüilo, nos mesmos sentimentos. Marcos esqueceu completamente as admoestações de Geraldo. A esposa soubera com destreza soprar a cinza revivendo o fogo. O ódio antigo, os sentimentos de vingança despertaram-se novamente. Não havia mais esperanças de reconciliação; o homem parecia mais duro do que antes.
Ao voltar a Castelgrande, Geraldo foi logo informado da mudança de Carusi.

Deveria o santo desistir e deixar o triunfo ao inimigo? “Não, disse Geraldo, o demônio não deve ter a vitória”. Animado de zelo foi logo ter com Carusi. Era naturalmente de esperar que ficasse sem efeito o assalto que ia fazer aos corações dos dois esposos. As palavras mais persuasivas e inflamadas não conseguiriam nada.
Geraldo ajoelhou-se, tomou o crucifixo, estendeu-o no chão e mandou que o espezinhassem: “Vinde e calcai com os pés o Cristo!” Essa intimação repetida três vezes, produziu espanto e confusão. Os esposos empalideceram e, como era de esperar, não se atreveram a executar a ordem do santo. “Vinde, continuou Geraldo, tentai calcá-lo aos pés! — Como? permaneceis imóveis, tendes medo e pavor! Sabeis que não há outro caminho: ou perdoar ou calcar com os pés este Jesus que mandou perdoar e que perdoou a seus algozes no alto da cruz. Escolhei!”

Ambos, esposo e esposa, sentiram-se horrorizados com essas palavras, mas não dispostos a perdoar; o ódio assentara-se fundo em seus corações. A vitória da graça estava iniciada mas não decidida.

Geraldo continuou: “Bem ou mal, deveis perdoar! Ouvi o que vos digo: A primeira vez que vim ter convosco, segui o chamamento dos homens, agora venho por ordem de Deus. Ouvi, pai e mãe, que recusais o perdão: vosso filho está no purgatório e lá ficará enquanto durar a vossa teimosia. Se quiserdes libertá-lo — reconciliai-vos! Isso é necessário antes de tudo; depois mandai celebrar cinco missas em sufrágio da sua alma. Esta é a última palavra, que vos digo em nome de Deus. Se a desprezardes, podeis contar com os tremendos castigos do céu”.
Dito isso, Geraldo voltou as costas, em ato de deixá-los; os esposos detiveram-no: estavam profundamente impressionados, resolvidos, vencidos. Exclamaram: “Queremos a reconciliação, e já”. E esta realizou-se na mesma hora com imenso júbilo dos castelgrandenses. As famílias reconciliadas permaneceram unidas na mais bela harmonia, esquecendo-se todos do triste acontecimento que havia produzido a desavença.

Mais uma derrota causou o santo ao demônio em Castelgrande. Orava Geraldo um dia na igreja diante do tabernáculo, quando duas mães lá entraram, levando cada uma a sua filha atormentada do espírito maligno. A vizinhança do servo de Deus incomodou os demônios, que clamaram em alta voz: “Que homem é esse que nos persegue em toda parte?”

O grito das possessas despertou Geraldo da meditação em que se aprofundara; correu e, ao ouvir as pobres mães e a causa das suas dores, encheu-se de compaixão; admoestou-as à confiança em Deus, tomou o cíngulo (cordão com que o sacerdote aperta a alva na cintura), deu-o às mulheres dizendo: “Voltai com vossas filhas para casa, cingi-as com este cíngulo, que elas ficarão livres imediatamente! Não temais se as virdes cair desmaiadas; será esse o momento em que os demônios as libertarão. Quando estiverem livres, confessem-se e recebam a santa comunhão, e os demônios nunca mais as molestarão. Coragem, o Todo-poderoso é bom, e nada lhe pode resistir!” As mulheres obedeceram e tudo realizou-se conforme Geraldo havia predito.

A presença do santo irmão em Castelgrande foi benéfica também para os doentes, que nele encontraram consolo e cura. Todos queriam tê-lo à cabeceira do seu leito e receber-lhe a bênção. Em muitos casos essa bênção operava alívio e melhoras admiráveis; citaremos apenas um caso.

O Dr. Caetano Cianci tinha entre os seus clientes um menino de três anos por nome Antônio Pace, cujas mãos e pés se entortaram devido a horríveis convulsões. Levou-o ao Irmão Geraldo, que colocou a mão sobre a cabeça do paciente e fez sobre ele, como de costume, o sinal da cruz, dizendo à pobre mãe: “Senhora, tende ânimo, o vosso filho está curado e nada mais terá que sofrer disso no futuro”. E de fato, o menino estava são; enrobusteceu-se e cresceu sem ter mais sintoma algum da antiga moléstia.

Entretanto Geraldo nem sempre atendia os pedidos feitos no sentido de um doente recuperar a saúde. A filha do supracitado Frederico, por nome Judith, perdera a vista em conseqüência de uma enfermidade. A mãe aflita pediu a Geraldo alcançasse de Deus a vista para a sua filha. O santo prometeu fazer o possível e mandou a mãe rezar pela menina. Logo depois voltou e disse: “Se a vossa Judith recuperasse a vista, estaria perdida; resignai-vos com a vontade de Deus. Em compensação vossa filha será indenizada com mais talentos do que muitas outras”.

O futuro não desmentiu as palavras de Geraldo; a menina permaneceu cega, mas desenvolveu grande habilidade para os serviços domésticos e serviu de mestra para as irmãs mais novas.
Esses acontecimentos maravilhosos tiveram conseqüências salutares na cidade, porém a vida santa de Geraldo mais ainda contribuiu para edificação geral em Castelgrande.

“A sua estada em Castelgrande, diz Tannoia, foi uma verdadeira missão para os moradores da cidade. A muitos revelou Geraldo o estado das suas consciências. As palavras sempre eficazes do servo de Deus operaram transformações edificantes. Entre outros converteu e ganhou para Deus quinze moços desordeiros e escandalosos, contra os quais ninguém podia proferir palavra devido à posição que ocupavam”.

Compreende-se a consternação do povo de Castelgrande quando soube da partida de Geraldo. Trezentas pessoas acompanharam-no até uma certa distância, cumulando-o de agradecimentos e votos de felicidade. Tão grande foi a veneração conquistada por ele entre o povo, que os próprios lavradores, ao ouvirem que Geraldo passava, abandonaram seus trabalhos nos campos e correram às ruas para receberem a sua bênção.

Como o Irmão Francisco Fiore costumava cavalgar adiante na distância de algumas centenas de passos, muitos os tiveram pelo Irmão Geraldo e o distinguiram com sinais de veneração. Para se furtar a essas manifestações imerecidas, gritava ao ver algum grupo que se aproximava: “Eu não sou o santo; lá vem ele, lá vem ele!”

De Castelgrande foi Geraldo a Caposele afim de levar ao confessionário os quinze moços que convertera, e visitar o seu diretor espiritual Pe. Cafaro, que era reitor daquela residência. Só depois é que voltou para Iliceto.
“Os resultados espirituais obtidos em Castelgrande — assim termina Tannoia sua narração sobre os trabalhos de Geraldo nessa povoação — foram tão duradouros que desde aquele tempo, bom número de pessoas de lá vão se confessar em Caposele todos os sábados. Essas pessoas não se intimidam nem pela distância de duas ou três horas de caminho nem pela necessidade de pernoitar ao relento.

Essa grande afluência de povo causou profunda impressão sobre o Pe. Cafaro, que o fez exclamar: “É isso! Aonde esse irmão vai, põe tudo em polvorosa”.

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