Trocando de roupa para o Banquete Nupcial

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Caminhada para o Céu

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A nova visita de Geraldo foi de imenso contentamento para todos os habitantes da cidade, por muitos anos correu a fama das conversões por ele efetuadas ou encaminhadas, e dos frutos espirituais por ele produzidos.



A VIDA PRODIGIOSA DE SÃO GERALDO MAGELA
 CAPÍTULO XIV 

A novena de São Teodoro em Melfi. Trabalhos em Atella e Lacedogna. 

A supracitada atividade do santo em Melfi despertou no bispo Mons. Basta o desejo de tê-lo outra vez, e quanto antes, perto de si. Ocasião para isso deu a novena solene que se realizou na matriz de São Teodoro, como de costume, em novembro de 1753. Convidou para pregador o Pe. Fiocchi, pedindo-lhe que levasse consigo o Irmão Geraldo. O reitor de Iliceto não pôde declinar do convite e dirigiu-se a Melfi nos últimos dias de outubro, porquanto a festa de S. Teodoro se celebra a 9 de novembro.

A nova visita de Geraldo foi de imenso contentamento para todos os habitantes da cidade. A novena de São Teodoro nunca fora tão freqüentada como desta vez, pois que todos queriam ver o santo irmão e aprender dele alguma coisa edificante. Mons. Basta deu o exemplo; conferenciava com ele horas inteiras e não hesitava em pedir sua opinião a respeito das questões mais complicadas, tão grande era a confiança que tinha na ciência e carismas celestiais de Geraldo.

O clero intimou o bispo. Abalizados vigários, sobretudo confessores, iam expor a Geraldo as suas dúvida sobre a cura d’almas e direção espiritual; e o santo resolvia todas as dificuldades e respondia a todas as perguntas satisfazendo a todos.
Não menos importante foi a influência de Geraldo sobre os leigos. Quem sentia qualquer inquietação, receito ou desejo no coração, ia ter com ele. Homens e senhoras da alta sociedade, bem como operários e mendigos recorriam à sua caridade, encontrando sempre o que procuravam. É escusado mencionar que as crianças se sentiam por ele atraídas de modo especial.

Noventa anos depois da estada de Geraldo em Melfi, uma dessas crianças ainda se lembrava dele vivamente e com alegria.
“Quando Geraldo se achava em Melfi, contou o centenário Xavier Pascucci por ocasião do processo da beatificação (1843), tinha eu dez ou doze anos e tive mais vezes ocasião de falar com ele; o servo de Deus falava sempre às crianças, que o procuravam, sobre o amor de Deus e o dever de cumprir com fidelidade as obrigações religiosas; dizia: ‘Que é que dareis ao bom Deus?’ fazia sobre as crianças o sinal da cruz e repartia santinhos de Nossa Senhora das Dores. Ele levava vida muito austera; eu mesmo notei que usava cilícios. Também para com os pobres era muito generoso... distribuía-lhes a sua própria comida... vi-o uma vez tirar os sapatos para dá-los a um pobre. O que mais observei nele foi o zelo pela salvação das almas e pela conversão dos pecadores”.

E realmente os trabalhos de Geraldo nesse sentido foram vultuosos, porquanto ainda por muitos anos correu a fama das conversões por ele efetuadas ou encaminhadas, e dos frutos espirituais por ele produzidos. Quem sabia de algum pecador obstinado bastava levar-lhe o irmão para garantir-lhe a conversão.

“Uma simples palavra de Geraldo, diz Tannoia, bastava para compungir os pecadores que, preparados para a graça do Sacramento, iam confessar-se ao Pe. Fiocchi. Isso dava-se sobretudo com certas pessoas distintas que, descuidando-se da sua alma desde há muito, haviam caído na lama do vício. Uma única conferência com Geraldo era suficiente para a mudança radical de sentimentos e de vida; essas pessoas tornavam-se depois modelos de virtude para os outros”.

Nessas conversões desempenhava saliente papel o dom admirável, que possuía, de conhecer os corações e os seus segredos mais ocultos. Em Melfi vivia um gentil homem, que a muitos anos calava pecados na confissão. Geraldo, encontrando-se uma vez com ele, descobriu imediatamente o triste estado da sua alma. “Meu filho, disse ao homem, estais vivendo no pecado; porque é que quereis assim morrer como um condenado? confessai aquele pecado, que tendes ocultado até agora, e procurai a graça divina”. O homem, coberto de confusão e vergonha, pôs em ordem a sua consciência.

O mesmo deu-se com uma senhora, que apesar de muitas confissões, não conseguira afastar a pedra que oprimia o seu coração, isto é, a culpa que ocultava ao ministro de Deus. Por caminhos extraordinários teve Geraldo conhecimento do estado dessa alma, e utilizou-se dele no primeiro encontro: “Minha irmã, disse-lhe, como podeis viver em paz permanecendo em pecado mortal? porque não confessais o pecado que ocultais há tantos anos?” A essa revelação a mulher corou e resolveu reconciliar-se com Deus por meio de uma sincera e detalhada confissão.

Conversão semelhante, porém ainda maior devido às circunstâncias que a acompanharam, é a seguinte: Estando o santo para sair do palácio episcopal, foi apostrofado por uma senhora, tida por piedosa. Para se granjear maior reputação, a hipócrita procurava falar com todos os que tinham fama de grande santidade; manifestava-lhe os seus segredos para passar por alma conscienciosa e piedosa. Tinha por diretor o Padre Martinho, agostiniano, o mais célebre confessor de Melfi. Essa infeliz criatura, por nome Teresa Moronti, apresentou-se também a Geraldo, que sabia ser um homem de Deus de muita cotação. Geraldo ouviu-a calado e calmo. Ao terminar ela a sua prosa hipócrita, disse-lhe em tom grave: “Porque esse palavrório vão? há tantos anos vos confessais e comungais sacrilegamente e quereis passar por santa? ide confessar-vos com sinceridade se não quereis a morte de um condenado”.

Essa revelação inesperada confundiu e envergonhou a mulher; a palavra “estais condenada” foi-lhe como um raio em céu sereno; correu ao seu confessor Pe. Martinho e sem lhe descobrir o veneno em sua alma, disse-lhe somente: “Padre, estou condenada, ajudai-me a fazer uma confissão geral”.

O confessor, na convicção de que Teresa se levava por temores infundados, censurou-a e despachou-a com as palavras: “Estais louca”. Esse procedimento do confessor compreende-se facilmente, mas não se lhe pode perdoar a circunstância do fato, porquanto, apesar do reiterado pedido da penitente que afirmava estar em pecado mortal, a ela manifestado por Geraldo que só o poderia conhecer por inspiração divina, não a quis ouvir, indignou-se e mais tarde, na presença de diversas pessoas, injuriou o santo irmão taxando-o de ignorante, imprudente e perturbador das consciências.

Felizmente Teresa prestou mais ouvido à palavra de Geraldo do que à do seu irritado confessor. Não encontrando paz, foi lançar-se aos pés do cônego Leonardo Rossi e declarou-lhe haver vivido hipocritamente durante dez anos, cumulando sacrilégios sobre sacrilégios. O seu arrependimento desta vez foi tão vivo e a detestação da sua hipocrisia tão radical que permitiu ao dito cônego comunicar ao Pe. Martinho, seu confessor ordinário, o estado da sua consciência. Manifestou outrossim o desejo de, na publicação dos milagres e virtudes do santo, ser relatado também este prodígio operado por Geraldo em seu favor. Teresa Moronti levou, desde então, vida santa e modelar.

A estas conversões estrondosas realizadas pelo santo juntaram-se ainda outros sinais, que provam claramente a sua missão superior. Entre outros, temos conhecimento de um milagre operado então na casa da conhecida viúva Bruno. Esta encontrara um comprador para grande parte do seu vinho. Realizado o negócio descobriu-se que o vinho se deteriorara em um barril; o negociante, como é natural, quis rescindir o contrato, pondo assim a senhora em grandes apuros. Por felicidade Geraldo apareceu nesse dia na casa da aflita viúva. Ao ter conhecimento do ocorrido disse: “Isso não é nada”, e mandou lançar no barril, que continha o vinho estragado, uma cédula com o nome de Maria Imaculada, prometendo que, com isso, o vinho se corrigiria. A mulher hesitou, mas o santo insistiu: “Porque hesitais? Sereis vós quem corrigirá o vinho? Não, é Deus quem o fará; por isso executai as minhas ordens!” Ela obedeceu e o vinho tornou-se delicioso como antes.

Terminada a novena de São Teodoro, Geraldo acompanhou o Pe. Fiocchi e outros sacerdotes até Atella, perto de Melfi, para a pregação da santa missão. Nessa cidade os missionários hospedaram-se na casa de Benedito Grazioli, amigo e benfeitor da Congregação; não tendo de preocupar-se desta vez com o material, pôde Geraldo entregar-se inteiramente a seus exercícios de piedade. Enquanto os missionários trabalhavam no púlpito e no confessionário pela salvação das almas, ele rezava diante do SS. Sacramento; preferia para isso a igrejinha das beneditinas, onde o seu coração se expandia com tanta devoção que a recordação do seu fervor perdurou no convento até o ano de 1843, em que se introduziu o processo da beatificação.

De Atella voltou o santo para Iliceto, porém só por poucas semanas.
Uma cidade enlutada suspirava por seu consolo e palavras cheias de unção: era Lacedogna, onde pontificava Mons. Amato, grande venerador do servo de Deus. Rebentara lá devastadora epidemia considerava por todas as pessoas de bem como um justo castigo de Deus, por causa dos escândalos horrorosos existentes na cidade. Penitência e mudança radical de vida supunham todos ser o único meio de afastar o horrível flagelo.
O arcipreste Domingos Capucci, homem segundo o coração de Deus, em cuja casa já encontramos como hóspede o nosso Geraldo, colocara ao lado do seu bispo para auxiliá-lo a debelar os escândalos e a demonstrar o erro aos culpados; porém todos os esforços desses dois pastores zelosos fracassaram diante da obstinação do povo. E apesar desse castigo continuavam as maiores desordens justamente entre os que deveriam servir de exemplo aos outros.

Em vista disso o bispo e seu arcipreste acharam que a única medida para pôr um dique ao mal, era a presença de Geraldo. O bispo escreveu ao Pe. Fiocchi rogando a fineza de mandar Geraldo por algum tempo a Lacedogna. Não era possível deixar de atender o pedido de um protetor e amigo como o bispo Amato, o qual na qualidade de vigário-geral de Conza favorecera a fundação da casa de Caposele (1746). Também o arcipreste Capucci, filho espiritual do Pe. Cafaro, merecia toda a atenção do Pe. Fiocchi. O servo de Deus partiu para Lacedogna provavelmente em janeiro de 1754.

Impossível descrever o júbilo das pessoas bem intencionadas de Lacedogna ao reverem o piedoso jovem, que outrora as edificara durante três anos quando a serviço do bispo Albini, e o respeito com que acolheram o religioso conhecido em toda a parte por sua eminente santidade. O Pe. Tannoia, biógrafo do santo, escreveu que este foi recebido em Lacedogna não como um homem mas como um anjo do céu.

O primeiro cuidado de Geraldo foram os numerosos doentes da cidade. Por meio da caridade para com os enfermos esperava ele preparar-se o caminho para os corações que queria converter. Viam-no correr pelas ruas o dia inteiro em procura dos enfermos. Todos recebiam sua visita, tanto o pobre em sua miserável choupana como o rico em seu palácio. Animava uns à paciência, inspirava a outros sentimentos de contrição, preparava os moribundos para a grande viagem à eternidade e restituía a não poucos a saúde perdida.

Entre estes últimos achava-se o cônego Antônio Saponiero, arcediago da diocese, que nos deixou uma relação escrita de seu próprio punho, descrevendo a sua cura.  
“Uma febre agudíssima, diz ele, reduziu-me ao estado de extrema fraqueza. O leito era-me um tormento; o estômago estava quase inteiramente paralisado; violentas dores de cabeça tornaram-se insuportável a moléstia, parecendo-me ser cada dia o último. Ao saber da chegada do servo de Deus em Lacedogna mandei pedir-lhe orações, e ele respondeu-me que minha moléstia, se eu confiasse em Deus, terminaria em breve. No dia seguinte foi visitar-me; aproximando-se do leito disse: ‘Louvai a Deus, estais curado’ e fez-me com o polegar da mão direita uma cruz sobre a fronte. Senti-me curado e ter-me-ia levantado imediatamente, se ele não me mandasse guardar o leito até o dia seguinte. Fiquei assim num instante livre da doença por um milagre de Geraldo”.

Com o sinal da cruz curou Geraldo ainda um outro homem que, desenganado dos médicos, chorava desesperadamente sua triste sorte. Feito o sinal da cruz disse-lhe o santo: “Coragem, levantai-vos em nome de Deus e vinde comigo à igreja, para vos confessar”. No mesmo instante o doente levantou-se, foi à igreja e confessou-se. Voltou para casa completamente curado.

Uma outra enferma a quem Geraldo restituiu miraculosamente a saúde, foi uma tal Lella Cocchia, que sofria a mais triste de todas as moléstias: definhava há meses em completa demência. O seu rosto inspirava compaixão e horror; seus gestos eram medonhos e suas palavras hediondas. Não era estranha a Geraldo. Quando o santo se achava em Lacedogna como esmoleiro, uma senhora fôra ter com ele em procura de consolo e alívio pela morte da mãe, por cuja sorte na eternidade ela muito se interessava. Chorosa suplicou ao servo de Deus lhe dissesse onde sua mãe estava. Geraldo então consolou-a com as palavras: “Vossa mãe está no purgatório; aconselho-vos receber quarenta vezes a santa comunhão por sua intenção, que ela ficará livre dos seus tormentos”.

Lella seguiu o conselho do santo e depois da quadragésima comunhão apareceu-lhe a mãe e agradeceu-lhe dizendo que nada mais lhe impedia a entrada no paraíso. O triste estado da boa filha comoveu o santo. Sem mais detença foi visitá-la em sua casa; saudou-a respeitosamente, como costumava, fez-lhe sobre a fronte o sinal da cruz e Lella pôs-se a cantar louvando a Deus e a SS. Virgem. Estava curada e completamente de posse das suas faculdades mentais.

A caridade de Geraldo para com os doentes surtiu o efeito desejado: abriu-lhe todos os corações. Seguro do auxílio divino atacou então os escandalosos com toda a franqueza. Sob qualquer pretexto ia visitar em domicílio os que o evitavam e, no caso de fracasso na primeira visita, conseguia o seu intento na segunda.

Os outros detinha em plena rua, falava ou gracejava amigavelmente para lhes sondar os sentimentos; achando-os mais ou menos dispostos acompanhava-os até a residência para o seu plano de assalto. Sua fé viva tornava-o orador eloqüente nessas ocasiões. Às vezes mostrava aos pecadores a sua insensatez e malícia, expondo-lhes os motivos mais convenientes para a resistência, outras vezes caía-lhes aos pés chorando e suplicando e não se levantava enquanto não se rendiam ganhos para Jesus Cristo. Não bastando a brandura, recorria à severidade; muitas vezes com um olhar ameaçador conseguia conversões, que simples palavras não realizavam.

Entre os escandalosos de Lacedogna distinguia-se um senhor de alta posição por sua incorrigibilidade. A esposa piedosa, pesarosa, conjurou Geraldo a que chamasse seu marido ao caminho da virtude e do temor a Deus. O santo consolou-a e mandou-a rezar. Conseguiu uma entrevista com o pecador e falou-lhe ao coração; suas palavras pareciam inspiradas porquanto o homem se mostrava impressionado. Enquanto Geraldo discorria sobre a infelicidade do pecador e a ruína, em que ele se precipita, operou-se no coração do esposo infiel uma transformação radical, manifestada nos sentimentos externados. O santo não se satisfez apenas com expressões de arrependimento. Antes de se despedir, exigiu do convertido a promessa de acompanhá-lo a Iliceto para os exercícios espirituais. O homem guardou palavra e o retiro que fez com a intenção de descontar os seus pecados, foi o começo de uma vida nova, edificante e feliz.

Um outro pecador não menos conhecido, gravemente enfermo, enxotava da sua casa, um depois do outro, todos os sacerdotes de Lacedogna. Nenhum conseguira, nem naquele momento tão importante, excitá-lo à contrição dos seus erros e à reparação dos escândalos dados. O santo, chamado à cabeceira do seu leito, fitou o obstinado, ajoelhou-se e rezou uma Ave-Maria ao “Refúgio dos pecadores”. O fruto da oração manifestou-se imediatamente; o coração endurecido tornou-se mole como a cera. O homem resolveu confessar-se, o padre chegou a tempo de arrancar a pobre vítima das garras de Satanás.

Não menos feliz foi o santo com um sacerdote, que esquecido da sua vocação, levava, há anos, uma vida pecaminosa. Encontrando-se com ele na sacristia no momento em que se preparava para celebrar a santa missa, chamou-o a um canto, lançou-se lhe aos pés e mostrou-lhe a gravidade dos seus pecados porquanto sempre carregado da culpa se atrevia a subir ao altar e celebrar o santo sacrifício. A humildade do servo de Deus surtiu efeito; o sacerdote caiu em si e tornou-se modelo de virtudes, mostrando-se grato ao santo todos os dias da sua vida.

Geraldo, também desta vez, hospedou-se em casa de Constantino Capucci, irmão do arcipreste. O tempo, que o santo lá passou, foram dias de bênção para toda a família, que assistia diariamente às palestras, ora breves ora longas, que o santo lhes fazia. As breves alocuções de Geraldo sobre o amor de Deus e a necessidade de salvar a alma, possuíam uma força especial, penetravam até o fundo dos corações. Essa impressão causada por suas palavras, crescia poderosamente pelos conhecimentos sobrenaturais do santo revelados nessas ocasiões.

Um dia caiu a palestra sobre a vida eterna e a bem-aventurança, preparada aos eleitos no céu. O santo falava com eloqüência empolgante; entre os ouvintes achava-se um senhor, que ao ouvir tanta eloqüência, desejou mentalmente que sua esposa também ali estivesse para ouvir o santo. Subitamente Geraldo voltou-se para ele e disse: “Mestre Ângelo, assim se chamava ele, porque não pensais em vossa própria alma, e não procurais tirar proveito das coisas que eu digo? porque pensais em vossa esposa com o desejo de ela também ouvir as minhas palavras? Enquanto pensais nos ausentes, afastai-vos daquilo que falo para utilidade geral”. O mestre Ângelo espantou-se e não pôde proferir palavra. Mais tarde confessou a Constantino Capucci, que Geraldo tinha razão.

Tão grande foi a afluência do povo, que a casa de Capucci parecia um mercado onde todos entram e saem. Procurado por todos, o pobre irmão não encontrava um momento livre durante o dia, prolongando-se esse vai e vem até alta noite. O santo recebia a todos com amabilidade e auxiliava sempre que podia.

Uma senhora de Lacedogna era atormentada de violentas tentações que lhe roubavam toda a alegria da vida; triste e aflitiva dirigiu-se ao santo em busca de lenitivo e conselho. Geraldo, descobrindo imediatamente o motivo dos sofrimentos disse-lhe com franqueza: “Senhora, vós mesma sois culpada; não sois fiel a Deus; fechai um pouco mais a porta do coração e encontrareis a paz”. A dama ficou surpreendida não pelo conselho, mas pelo fato de Geraldo conhecer tão depressa a chaga da sua alma; ela teve de confessar-se a si própria que bem insignificante era o seu esforço para se desfazer de certos apegos e fugir da ocasião próxima do pecado.
Um dos que mais consultavam o Irmão Geraldo era o bispo Mons. Amato que se não cansava de falar-lhe e pedir as suas opiniões; conferenciava com ele sobre os negócios mais importantes, e, por assim dizer, colocava-se sob a sua direção. Por isso não deixava passar nenhuma visita de Geraldo a Lacedogna sem ter com ele longa conferência. “Entreter-se com Geraldo em palestra teológica ou ascética, costumava dizer, é tornar-se seu discípulo; e quem se fez discípulo seu sai verdadeiro teólogo porquanto são sublimes as instruções que dá”.

A exemplo do prelado o cônego Capucci palestrava freqüentemente com o santo sobre coisas espirituais. Desde a missão de Lacedogna em 1746 o cônego estava sob a direção espiritual do Pe. Cafaro, mas na vida interior ainda não atingira aquela segurança, que sua posição exigia. Essa falta foi suprida pelo Irmão Geraldo, que introduziu o cônego nessa ciência tão necessária, ensinou-lhe os caminhos da vida espiritual, apresentou-lhe os pontos mais importantes, auxiliou-o a purificar-se dos sentimentos e aspirações mundanas e terrenas, e conseguiu por suas admoestações e conselhos que o excelente sacerdote levasse uma vida verdadeiramente apostólica e virtuosa e tivesse por fim, uma santa morte.

Durante a estada de Geraldo em Lacedogna, de Bisaccia, lugar vizinho aonde penetrava a fama do santo chegou um doente que voltou curado por ele. Por isso o chantre da Catedral de Bisaccia foi a Lacedogna e insistiu com o irmão para que chegasse até lá, onde um infeliz por nome Bartolomeu Melchionne, muito necessitava do seu auxílio. Melchionne, casado há um ano, contraíra uma moléstia singular, que o fazia definhar, visivelmente; tornara-se tolo com sinais de obsessão. Geraldo, comovido cedeu ao pedido do chantre e foi a Bisaccia. A sua primeira palavra a Melchionne foi: “Não é nada, não é nada; estais curado!” Pronunciou a seguir algumas orações sobre Bartolomeu que subitamente se sentiu bem. Geraldo levou-o consigo para almoçar na casa do chantre. O ex-doente comeu com extraordinário apetite e depois, em doce júbilo, entoou com o santo um belo hino.

De Bisaccia Geraldo voltou a Iliceto. De caminho portou em Rocchetta, onde um operário calabrês escandalizava o todos vivendo ilicitamente com uma mulher. Geraldo, ao chegar, ouviu do fato e mandou chamar o homem. Este obedeceu porquanto não se atrevia a recusar o convite de um homem de tamanha reputação. O santo falou-lhe ao coração com tanto acerto, que o infeliz se humilhou e compungiu. O santo penetrou em sua consciência, relatou-lhe coisas que mais ninguém podia naturalmente saber, mostrou ter conhecimento perfeito do seu coração, de sorte que o culpado ficou atônito e envergonhado; prometeu a Geraldo mudar de vida e afastar o objeto da sua paixão. Vendo o santo a contrição do operário, encaminhou-o a um confessor e ensinou-lhe como completar a sua conversão. Desde então o homem foi freqüentemente a Iliceto para pôr em ordem os negócios de sua alma. mais tarde casou-se a conselho de Geraldo e voltou para sua pátria.

Em fins de fevereiro de 1754 o santo voltou para Iliceto. Entretanto o demônio tramou intrigas que farão o nosso santo sofrer horrivelmente nos próximos meses.
Antes de descrevermos essas intrigas e as tristes horas de Geraldo, lancemos um olhar para a atividade do santo, a que já aludimos sem encontrarmos então ocasião melhor de apresentá-la em toda a sua importância e extensão. A atividade, a que nos referimos, é o seu apostolado nos conventos de freiras, sua operosidade entre as religiosas.  


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