Trocando de roupa para o Banquete Nupcial

Trocando de roupa para o Banquete Nupcial
Caminhada para o Céu

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Alegrai-vos pois e oferecei-vos a Deus sem reserva, e ele vos ajudará, quem senão Deus vos poderá dar paz?


A VIDA PRODIGIOSA DE SÃO GERALDO MAGELA


CAPÍTULO XVI 

Conselhos espirituais 

Logo após a eleição da nova priora em Ripacandida teve o santo oportunidade de discorrer, por escrito, sobre as obrigações de uma superiora e expressar suas opiniões a respeito, em uma carta, que infelizmente só nos foi transmitida em parte. Maria Michaela pedira-lhe alguns avisos que lhe servissem de orientação e bússola espiritual no cargo de priora. O santo não hesitou em executar esse humilde desejo e escreveu um longo tratado sobre as obrigações da superiora de uma comunidade, cujo teor damos, a seguir, em fiel tradução. 

“Reverenda Madre 
Por amor de Jesus e Maria desculpai-me a demora em cumprir o meu dever, enviando-vos esta Regra com tanto atraso; a minha indolência habitual foi causa desta delonga. Faça-se a vontade de Deus! Desculpai-me também a pressa com que escrevo. 
Ocupando a priora o lugar de Deus, deve desempenhar seu cargo com toda a exatidão se quiser agradar Àquele, cujas vezes faz. Com a maior prudência deve orientar-se em tudo pelo espírito de Jesus Cristo. Munida de todas as virtudes deve dar o melhor exemplo não servindo de escândalo às suas filhas. Seu coração seja um vaso puro, repleto de bálsamo da virtude que se comunique às filhas para crescerem, como a mãe, em perfeição e santidade. 

A superiora não perca jamais de vista a sua insuficiência, lembrando-se, de que de si mesma só poderá produzir o mal. Para o cargo que desempenha foi Deus quem a elevou, pois que muitas são as que poderiam desempenhá-lo tão bem ou até melhor do que ela. À vista das suas imperfeições humilhe-se sempre e compadeça-se das faltas alheias. Cumpra por amor de Deus os deveres de seu cargo não o detestando como um peso, que Deus não impõe a ninguém. Considerando que Deus para ele a destinou desde a eternidade, desempenhe-o com perfeição angélica, conformando-se com a vontade de Deus e permanecendo, quanto ao cargo, na mais completa indiferença sem nenhum apego. 

Nos casos duvidosos, não sabendo resolvê-los, recorra a alguma pessoa iluminada por Deus. Depois de tomada a resolução, coloque ante os olhos a glória divina e execute o seu dever sem respeitos humanos, mesmo que fosse necessário derramar o sangue ou perder a vida, pois que se trata da causa divina. Por amor de Deus não lhe para a honra própria. 

O pensamento: “eu sou superiora”, deve preocupá-la sempre, “Deus me quer neste posto”, diga-se sempre, “e eu quero executar a vontade divina e velar sobre as almas a mim confiadas. A mim compete servir, aconselhar, ensinar, consolar e agradar a todos; devo ceder o melhor aos outros e escolher para mim o pior, a fim de agradar a Deus; além disso tenho de sofrer alguma coisa para imitar Jesus, meu querido e divino esposo”. 

Qual roda, em giro constante, devem os pensamentos de uma superiora mover-se sem cessar, satisfazendo às necessidades de suas filhas. Ame todas as suas religiosas, sem exceção alguma, com puro amor em Deus. Lembrando-se que suas filhas em virtude da obediência só poderão ter o necessário, esqueça-se de si mesma para só pensar e cuidar delas. Chegando presentes de fora ao convento, como comidas, roupas ou semelhantes, não tome nada para si antes de prover as outras irmãs. 

Cuide em inspirar confiança a todas, mormente quando perceber alguma falha nesse sentido. Nesse caso empregue todo o esforço e prudência para ganhar os corações de suas filhas; e mesmo que interiormente não se achasse a isso disposta, procure mostrar-se exteriormente amável e bondosa, vencendo-se por amor de Deus. Do contrário entra a confusão e o azedume da filha, que, julgando-se desprezada, talvez se entregue ao desânimo; porém mesmo que isso não se desse, a pobre, com esse espinho no coração, não progrediria no amor de Deus. As mulheres são muito sujeitas a essas coisas. 

Energia e mansidão — ambas requerem-se da superiora. Como representante de Deus exigirá obediência e castigará, sempre com prudência, as desobedientes que não querem ouvir a voz de Deus. A correção deve começar com brandura, que conserva a alma na paz necessária para o reconhecimento de culpa. Uma correção, por exemplo, poderia ser feita da forma seguinte: “Minha filha, fazes-te indigna da tua vocação e eu não posso com o meu silêncio admitir essa indignidade. Ah! meu Deus, que quereis que eu faça com esta alma imperfeita? Minha filha, não queres ver, que teu mau exemplo escandaliza muitas almas santas! Seria melhor que ficasses no mundo e não tivesses entrado neste lugar, que agora poderia ser ocupado por uma outra desejosa da santificação. Devo dizer-te isto porque sou tua mãe. Deus sabe o quanto te quero e desejo tua santificação. Peço-te, filha, que te resolvas a santificar-te e prometas ao Senhor depor as tuas imperfeições; se precisares do seu auxílio, vem a mim com a confiança de uma filha”. 

Feita dessa forma a correção, penso que a filha não fugirá da mãe, que, ganhando a confiança daquela, poderá facilmente levá-la ao conhecimento reto e à resolução de palmilhar a vereda da perfeição. Com brandura ganha-se mais do que com azedume, que só produz confusão, tentação, trevas e indolências, enquanto que a mansidão gera paz e incentiva as filhas ao amor de Deus. Se as superioras assim procedessem, todas as suas súditas seriam santas. Causa de muitas desordens e perturbações da paz em alguns conventos, é a falta de prudência, Onde há confusão está o demônio, e onde está o demônio não está Deus.” 

Aqui termina infelizmente essa magnífica instrução. Que prudência, que moderação, que conhecimento do coração humano não transpira dessa simples regra! Tem-se a impressão de se estar ouvindo, não um jovem irmão leigo, mas sim um sacerdote asceta experimentado na vida, e espontaneamente vem à lembrança Santa Francisca de Chantal que instrui uma superiora com o método atraente aprendido de seu pai espiritual, com as seguintes palavras: “O vosso cargo, minha querida filha, é o de uma mãe... Vosso desvelo seja constante, mas suave. Na medida do possível tornai piedosas as vossas filhas, porque disso depende a sua felicidade; sentindo gosto em andar com Deus serão recolhidas e mortificadas. Não sejais como aquelas mães moles, que se não atrevem a castigar os filhos, mas também não como as que só sabem exasperar-se e gritar”. 

A missão de uma superiora, descreve-a o santo em uma outra carta com as seguintes palavras: “Desejo ver-vos como um serafim, repleto do amor divino, de sorte que já o vosso semblante inflame todas as vossas filhas.” 
Acima de todo elogio é, na opinião do santo, a felicidade de uma verdadeira esposa de Jesus Cristo; venturosa aquela que por Deus foi chamada e vive de acordo com sua vocação; indizivelmente infeliz porém é aquela que perde a vocação, preferindo o mundo ao convento. 

O santo achou ocasião ao acaso para escrever esses seus pensamentos, quando de Ripacandida lhe anunciaram achar-se uma noviça em grande perigo de abandonar a obra da sua santificação e voltar aos caminhos banais do mundo. Cheio de ardor escreveu à noviça tentada: 

“Minha irmã em Jesus Cristo 
Posso dizer-vos em nome de Deus: permanecei em santa paz; essa tempestade não é nada senão obra de Satanás que vos quer ver longe desse lugar sagrado! Minha filha, ficai alerta porque o tentador invejoso arma as suas ciladas; não gosta que aí estejais e quer impedir   vossa santificação. Quanto a vocação todos nós temos sofrido tentações, que Deus permitiu para provar a nossa fidelidade. 

Alegrai-vos pois e oferecei-vos a Deus sem reserva, e ele vos ajudará. Como poderíeis esquecer as belas resoluções, que tomastes de pertencer inteiramente a Jesus Cristo como sua fiel esposa? Se antes tanto desejáveis merecer esse honroso nome, porque é que agora quereis rejeitá-lo? 
Minha irmã, quem senão Deus vos poderá dar paz? O mundo terá acaso contentado jamais algum coração? satisfeito o de alguma princesa, rainha ou imperatriz? Nunca se ouviu dizer isso, nenhum livro o menciona; o que sabemos do mundo é que ele semeia espinhos e cardos nos corações dos meus sequazes, e que os mundanos por ricos, distintos e alegres que pareçam, são atormentados e crucificados em seu interior. Que devo eu dizer? Quisera que falásseis com o homem mais feliz do mundo, para verdes o que na realidade se passa em seu coração apesar de todo o brilho exterior; crede-me, que tenho experiência, coisa enfadonha é a vida no mundo. Deus vos livre disso, minha irmã. 

Deus tem boas intenções a vosso respeito e por isso permite a tentação, para provar a vossa fidelidade! Coragem, pois; reprimi nobremente a tentação, declarando-vos sempre esposa de N. S. Jesus Cristo. Que sorte feliz a de uma esposa de Cristo! Ela possui a plenitude da sorte, da paz, do sossego, de todo o bem. Que são os bens passageiros e fictícios do mundo em comparação com a felicidade eterna de uma alma desposada com Cristo no Céu! Não digo que não se salva quem vive no mundo, mas asseguro que no mundo se está sempre em perigo de naufragar e que lá ninguém pode santificar-se tão facilmente como no convento. 

Meditai na brevidade do tempo e na duração da eternidade e considerai que aqui tudo é passageiro. Com a morte acabam-se as coisas do mundo. Que adianta apoiar-se em coisas que não têm firmeza? Tudo o que não conduz a Deus é vaidade, que não tem valor para a eternidade. Infeliz a alma que confia no mundo e não em Deus! 
Ide, Irmã, à cripta, onde estão os ossos das muitas religiosas falecidas em vosso mosteiro e meditai no que teriam elas ganho se fossem distintas damas no mundo. Oh! quanto lhes valeu ter vivido pobres, mortificadas e encerradas nesse mosteiro! Talvez tenham sofrido muito, mas em compensação que paz não terão sentido na hora da morte dentro da casa de Deus! Todos desejam ser santos na hora da morte; mas será tarde, pois que lá só se encontra o que se tiver feito por Deus. 

Mesmo se a tempestade ainda não se acalmar em vosso coração, confio inabalavelmente e espero da SS. Trindade e da minha Mãe Maria, que em vosso convento haveis de ser uma santa. Fazei o possível para que eu não me iluda. Esmagai a cabeça do monstro infernal, que vos quer expulsar do lugar santo; desprezai-o; dizei-lhe que sois uma esposa de Cristo que ele tremerá. Coragem, amai a Deus de todo o vosso coração, entregai-vos inteiramente a ele e fazei que o monstro desapareça! Rezai por mim como eu faço por vós”. 

Essas palavras insistentes e paternais surtiram efeito. A moça, a quem foram dirigidas, superou felizmente todas as insinuações do demônio e começou com coragem varonil a galgar a montanha da perfeição. O servo de Deus exultou de prazer ao ouvir que a noviça professara, sentindo-se muito feliz em sua vocação. De Nápoles, onde estava, escreveu-lhe: 

“Prezadíssima irmã em Jesus Cristo. 
Vossa carta consolou-me com a notícia da vossa profissão. Glória a Deus e a vós também! Agora que tivestes a graça de vos consagrar inteiramente a Deus pelos santos votos, estais exaltada como nunca: sois uma esposa de meu Senhor. Sereis feliz se sempre meditardes a sublimidade da vocação, se vos humilhardes sempre diante de Deus e vos esforçardes por conseguir a perfeição que de vós exige o vosso sublime estado. Considerai os favores que recebestes e rendei graças à bondade divina todas as manhãs. Eia, tornai-vos uma grande santa, pois que tendes ocasião para isso. Rezai sempre por mim e pedi-lhe que me torne santo”. 
O caminho de uma verdadeira esposa de Cristo deve ser iluminado pela fé e ter a Deus por alvo. 

Para amar a Deus, escreve Geraldo à priora de Ripacandida, é preciso crer; quem é fraco na fé, fracamente se une a Deus. Quanto a mim estou resolvido a viver e a morrer compenetrado da fé. A fé é vida e a vida é fé para mim. 

Ó Deus, quem poderia viver sem a fé! Quisera gritar para ser ouvido do mundo inteiro. “Viva a nossa santa fé! Só Deus merece ser amado!” 

Essa vida da fé, na opinião do santo, não deve contestar-se com pouco, mas subir constantemente as alturas da perfeição. Em uma carta, em que faz alusão à morte de uma irmã, fala Geraldo desse dever. 

“Eu já sabia — escreve — da morte da Irmã Oliveira; agora ouço que a Irmã Maria Antônia entrou em seu lugar. Dizei-lhe que me alegro com isso. Para completar a minha alegria, queira ela pôr em prática, ainda com mais fervor, as santas resoluções que já tinham no mundo, e ser uma santa como foi a Irmã Oliveira, porque, se não o for, dará contas a Deus”.  

Tempestades, tentações, temores acompanham geralmente a alma que resolveu seguir o caminho da perfeição; ninguém se desanime por causa disso; que não é das piores coisas; ao contrário a paz e a privação desses ataques são sempre suspeitas. porque geralmente ocultam os perigos. 

“Coragem, escreve Geraldo a uma irmã aflita, não vos perturbeis; confiai em Deus e esperai dele o auxílio necessário. Não vos apoieis em vós mesma mas em Deus, quando parecer reinar tranqüilidade, convencei-vos que o inimigo está perto. Não confieis na paz, porque logo depois pode vir a guerra. 

Vivei acautelada, recomendai-vos à SS. Virgem, para que ela vos assista e afaste o inimigo com sua poderosa mão. O sofrimento  não vos deve abater, mas só humilhar diante de Deus e excitar-vos, à maior confiança em sua misericórdia. 

O parafusar, de que falais, não vale nada, vem do demônio que vos quer roubar o tempo. Revesti-vos de coragem e confiai em Deus, que ainda sereis santa”. 

Suaves admoestações, como essas, sublimes princípios e eficazes setas de fogo do amor divino eram o alimento, de que o santo costumava nutrir o espírito das esposas de Jesus Cristo. 

Nutrimento certamente de primeira ordem! Não admira pois o influxo admirável e salutar de Geraldo sobre as boas irmãs, que cooperou fortemente para o desenvolvimento e florescência do espírito de Santa Teresa entre suas filhas.   

Essa relação santa de Geraldo com o mosteiro de Ripacandida perdurou até a morte do servo de Deus. 

Mesmo após o falecimento de Geraldo as religiosas consideravam-no como seu guia e amigo, invocavam-no e tributavam-lhe filial veneração. “Quantas novenas, diz uma delas no processo da beatificação, não temos feito em sua honra!

 Nós todas o escolhemos por especial padroeiro, e sempre ainda nos recomendamos à sua intercessão, e ele lá do alto tem se dignado vir em nosso auxílio”.  



Nenhum comentário:

Postar um comentário