Trocando de roupa para o Banquete Nupcial

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Caminhada para o Céu

quinta-feira, 7 de março de 2013

A melhor oração consiste, em alguém ser tal qual Deus o quer, em cumprir sem reserva a vontade divina e em esforçar-se sempre para chegar a Deus.


 A VIDA PRODIGIOSA DE SÃO GERALDO MAGELA

 
 CAPÍTULO XVIII 

Semanas felizes em Caposele 

Em fins de junho — numa sexta-feira — chegou Geraldo com o Pe. Giovenale em Caposele. Sentiu um novo alento com a permissão de poder novamente aproximar-se da mesa da comunhão. Por essa ocasião o Senhor glorificou seu humilde servo com um milagre que — no dizer de uma testemunha fidedigna — se repetira várias vezes em Iliceto. Queremos relatá-lo com as palavras do Pe. Landi.

“Sábado à tarde Geraldo pediu ao Pe. Giovenale permissão de passar em recolhimento o dia seguinte até a hora da comunhão, o que lhe foi concedido. No domingo o superior, precisando dele, mandou-o chamar. Foram a sua cela e não o encontraram, procuraram-no em todos os cantos da casa, porém em vão. Voltaram novamente à cela do irmão: a cama estava feita, o barrete noturno intato, em parte alguma vestígio de Geraldo. Entretanto chegara Nicolau Santorelli, médico da casa ao qual o Pe. Giovenale disse: “Sabeis já que perdemos o Irmão Geraldo?
— Como, perdido o Irmão? mandai procurá-lo — Já o procuraram, porém sem resultado — Quem sabe, ele se escondeu debaixo da cama — Mandei já examinar toda a cela; lá ele não está — Pois bem, disse o médico, eu mesmo irei procurá-lo — e saiu com o Irmão Nicolau. As novas pesquisas não foram mais felizes do que as primeiras.

 “Não importa, disse Santorelli, na hora da comunhão ele sairá do seu esconderijo”. E de fato. No momento da comunhão Geraldo apareceu no corredor; chamaram-no e o levaram ao Pe. Giovenale que se achava junto com Santorelli ao pátio perto da cisterna. O reitor censurou o seu inexplicável desaparecimento e quis saber onde ele se achara todo aquele tempo. “Em minha cela”, respondeu Geraldo inocentemente. “Como, na cela? e eu vos mandei procurar por todos os irmãos e nenhum vos encontrou. Fazei já dez cruzes com a língua no chão”. Geraldo obedeceu e cumpriu a penitência. “Eu deveria agora proibir-vos, continuou Giovenale, a santa comunhão por um mês inteiro, e mandar-vos jejuar a pão e água”. — “Ó meu padre, replicou Geraldo a sorrir, fazei-o pelo amor de Deus”.

“Quando lhe mandaram explicar o caso, continuou Landi, confessou ter pedido ao Senhor que o fizesse invisível, para não ser perturbado na preparação para a comunhão; essa graça ele alcançou pela intercessão da SS. Virgem. O Pe. Giovenale interrompeu-o dizendo: ‘Por esta vez perdoo-vos, mas cuidado, para não fazerdes semelhantes pedidos no futuro’.

De caminho para a igreja Geraldo encontrou o Dr. Santorelli e disse-lhe: ‘Sabeis que me é novamente permitido comungar?’ Foram ambos à sacristia e o doutor perguntou-lhe: ‘Geraldo, falai-me a verdade; onde é que estivestes? Como podeis afirmar terdes estado na cela, quando eu e o Irmão Nicolau a examinamos em todos os cantos e vos não achamos?’ A estas palavras Geraldo tomou o doutor pelo braço, levou-o à cela e mostrou-lhe o lugar, onde estivera sentado numa pequena cadeira junto à porta. ‘Mas nós vos procuramos em toda parte e vos não encontramos’. ‘Sim, replicou Geraldo sorrindo, às vezes eu me faço muito pequenino’.”

Esse acontecimento impressionou tanto a nós crianças, conta o neto do doutor, Miguel Santorelli, que, quando queríamos brincar de esconder, dizia-mos: “Vamos brincar de Irmão Geraldo”.
Mal chegara o nosso santo a Caposele, foi esclarecido o seu caso com a manifestação solene da sua inocência. Neria Caggiano, a caluniadora, adoecendo gravemente, ralada de remorsos, resolveu reparar o mal causado a Geraldo  participou tudo a seu confessor rogando-lhe escrevesse uma nova carta a Santo Afonso desfazendo a calúnia; arrependida declarou, haver por sugestão diabólica, inventado aquele crime que o irmão nem sonhara em cometer.

É fácil compreender a alegria do santo fundador com essa comunicação; nada poderia causar-lhe maior consolação. Exultou como Jacó ao encontrar em honras o seu filho. A alegria pela revelação da virtude ilibada do irmão foi geral e forte. Só Geraldo não se impressionou. “Ele que se não abatera com a calúnia, escreve Tannoia, não se mostrou triunfante com a gloriosa justificação”.

Santo Afonso, ao rever o santo, recebeu-o com ternura paternal, que há tanto tempo lhe havia recusado. “Mas, meu filho, disse-lhe entre outras coisas, porque não dissestes nem uma palavra em vossa justificação? — Mas como poderia eu fazê-lo, replicou Geraldo, se a Regra proíbe desculpar-nos, e quer que suportemos calados todas as humilhações?” Profundamente comovido por essa quase excessiva observância regular, Afonso só pôde dizer: “Bem, bem, meu filho, ide-vos e Deus vos abençoe”. Em outra ocasião perguntou-lhe: “Deveis ter ficado muito triste com a proibição da comunhão?” “Nunca, meu Pai, foi a resposta, se Deus não quis vir a mim, porque devia eu ficar sentido?”

Virtude tão pura agradou sumamente a Santo Afonso, que se encheu de admiração por ele. “Geraldo, disse uma vez ao Pe. Cimino, é um prodígio de observância regular; deu-me disso a prova mais irrefragável; edifiquei-me ao perceber o alto grau de perfeição a que esse irmão atingiu”.

Semelhantemente externou-se ao Pe. Margotta. Ao elogiar este, um dia as virtudes de Geraldo, o seu dom taumaturgo, o seu zelo, sua admirável inocência e incansável tendência à perfeição, disse Afonso. “Mesmo que ele não houvesse manifestado, de outras formas, a sua virtude, bastar-me-ia a sua conduta nesta última provação”.

A veneração do santo fundador ao humilde irmão, confirmada por esse acontecimento, continuou imperturbada no futuro; ainda em seus últimos instantes de agonia lembrou-se Afonso de seu filho fiel e invocou a sua intercessão.
Voltemos ao nosso santo em Caposele. Embora a sua estada lá fosse de apenas poucas semanas, de fins de junho a fins de julho, deixou de si indelével recordação.

A respeito da sua ciência sobre coisas ocultas relata Tannoia o exemplo seguinte. O Pe. Giovenale estava a ouvir confissões, quando Geraldo, ao passar, lançou um olhar triste para o confessionário. Encontrando-se depois com o padre disse-lhe: “A confissão desse homem foi mal feita; procurai ganhar essa alma para Deus”. O padre chamou novamente o homem e encontrou-o carregado de sacrilégios e outros pecados; preparou-o para uma boa confissão a fim de repô-lo no estado de graça.

O Pe. Giovenale experimentou em si próprio a luz sobrenatural de Geraldo. Esse sacerdote sentindo-se uma vez angustiado pelo pensamento de não se achar em estado de graça viu Geraldo que se aproximava para confessar-se. Após a confissão disse o irmão: “Meu pai, ficai tranqüilo, estais na graça de Deus. É o demônio que vos perturba”. Giovenale ficou surpreendido mas contente com essa manifestação; repreendeu todavia bruscamente o irmão: “Sois um louco, disse, e não sabeis o que falais”. Deu-lhe uma penitência e mandou-o retirar-se. Geraldo conhecera a alma do seu superior.

Nessa mesma ocasião o já citado cônego Rossi constatou o fato de Geraldo conhecer coisas distantes. Rossi achava-se em Caposele, onde foi fazer o seu retiro, quando de Melfi, sua cidade natal, lhe chegou uma notícia, que o obrigou a mandar depressa para lá um   portador. O cônego inquietou-se muito com a demora da volta do portador, não manifestando, porém, a pessoa alguma essa sua inquietação. Achava-se ele no fundo do jardim, quando viu o irmão aproximar-se com rosto alegre dizendo: “Senhor cônego, sossegai porque em Melfi tudo correu muito bem”. À chegada do portador, Rossi convenceu-se da verdade das palavras do irmão.

Recordação preciosa da estada de Geraldo em Caposele é a seguinte anotação escrita que nos revela toda a alma do santo e merece, por isso, ser mencionada em sua íntegra. Devemo-la à filial obediência de Geraldo ao Pe. Giovenale que, sob o pretexto de conhecer e provar a sua alma, lhe mandou escrever quanto possível todos os seus desejos, aspirações e propósitos.

Geraldo começa com seu desejo habitual: “A graça divina esteja sempre em nossos corações e a SS. Virgem nô-la conserve sempre. Amém.
Meu Pai, quereis saber todas as mortificações que costumo fazer e exigis que vos escreva os piedosos desejos, aspirações e propósitos, que me prendem o coração, e enfim que explique exatamente o voto que fiz de executar sempre o mais perfeito”.
A essa introdução segue uma relação edificante das duras mortificações, que o santo jovem praticava regularmente.

Mortificações diárias. “Tomo disciplina (flagelação) uma vez por dia - Levo à cintura uma corrente de um palmo de largura e dois de comprimento - De noite e de manhã, ao deitar e ao levantar, faço com a língua nove cruzes no chão - Num dos pratos ao almoçar e ao jantar misturo losna ou wermut - Sobre o peito uso um coração com pontas de ferro - Ao menos três vezes ao dia mastigo losna ou absinto - Rezo com o rosto em terra seis Ave-Marias de manhã e outras tantas à noite”.
“Às quartas, sextas e sábados, bem como nas vigílias, como de joelhos - ao meio-dia e à tarde faço com a língua nove cruzes no chão na sala de jantar, e em todos esses dias deixo passar as frutas”.

“Às sextas-feiras tomo ao meio dia, duas qualidades de comida e à tarde, apenas uma. Sábado jejuo a pão e água”.
Quartas, sextas e sábados coloco, ao dormir, uma cadeia ao redor da fronte, outra em uma das pernas, e no outro lado uma maior da largura de um palmo e do comprimento de três, que de dia me serve de cinta; além disso uso uma corrente no braço dia e noite.

De oito em oito dias flagelo-me até ao sangue.
Em todas as novenas de Nosso Senhor, da SS. Virgem e de outros santos faço cada dia, além das penitências mencionadas, a disciplina costumada e num dia a flagelação cruenta; além disso acrescento outros exercícios extraordinários para os quais peço permissão a V. Revma. de caso em caso”.

À lista das mortificações faz Geraldo seguir a dos desejos de seu coração, bem como dos pensamentos arrebatadores, que denomina. “Os mais vivos sentimentos do meu coração”.

Desejos: - Amar a Deus ardentemente - estar sempre unido a Deus - fazer tudo por Deus - amar a todos em Deus - conformar-me sempre com a vontade divina - sofrer muito por amor de Deus.

Os mais vivos sentimentos do meu coração: Tenho a bela sorte de me santificar; se a deixar passar, perde-la-ei para sempre. Se tenho ocasião de me santificar, que é que me impede de realizá-lo? Tenho todas e as melhores ocasiões de santificar-me. - Sim, quero ser santo. Mas que é isso: quero ser santo? Ah, Senhor, quão grande é a minha loucura! eu devo ser santo; outros oferecem-me os meios para isso e eu me queixo!

Irmão Geraldo, resolve entregar-te inteiramente a Deus. Convence-te e lembra-te que somente com orações e meditações ainda não és santo! A melhor oração consiste, em alguém ser tal qual Deus o quer, em cumprir sem reserva a vontade divina e em esforçar-se sempre para chegar a Deus. Isso quer o Senhor de ti - não deves servir nem a ti nem ao mundo - Basta ter a Deus presente e estar sempre unido a ele - Fazer por amor de Deus tudo o que se faz, isso é oração. Uns têm este trabalho, outros aquele, eu tenho o meu que é: cumprir a vontade divina. Todo o trabalho deixa de o ser quando alguém se cansa de Deus.

Em 21 de setembro de 1752 reconheci melhor estas verdades: Se tivesse morrido dez anos antes, não desejaria nem procuraria agora coisa alguma - Sofrer e sem ser para Deus é um tormento, sofrer tudo por Deus, não é sofrimento - Neste mundo quero viver e trabalhar, como se só Deus e eu nele vivêssemos. Muitos dizem que eu iludo o mundo. Mas que seria se eu quisesse enganar o mundo? Muito mais triste seria querer enganar a Deus”.
Esses pensamentos ocasionam-lhe uma séria consideração, seguida de alguns propósitos entrelaçados de orações e de uma série de resoluções detalhadas.

Consideração: Se eu me perder, perderei a Deus e que me restará então? - Senhor, fazei que tenha no coração uma fé viva no SS. Sacramento do altar.

Propósitos: Meu Senhor Jesus Cristo, eis-me empunhando a pena para exarar os propósitos, que já tinha feito a vossa divina Majestade e que agora renovo, como o exige a obediência. Apraza-nos, Senhor, conceder-me a graça de executá-los fielmente como vô-lo prometo novamente. Não posso confiar em mim mesmo, sou incapaz de agir de acordo com as minhas promessas; confio somente em vós, que sois a bondade e a misericórdia infinita e não podeis deixar de cumprir as vossas promessas. Ó bondade santíssima, se pequei, foi por haver confiado demais em mim; de hoje em diante quero que vós opereis em mim. Senhor, dai que execute tudo isso com pontualidade - Espero-o de vós, inesgotável tesouro meu, Amém!  
“Escolho o divino Espírito Santo por meu único consolador e protetor em tudo. Seja ele o meu defensor, o vencedor de todas as minhas faltas. Amém!

“E vós, minha única jóia, Imaculada Virgem Maria, sede o meu presídio e conforto em todas as fases da vida, e minha intercessora junto de Deus, para que eu execute todos os meus propósitos”.
“Também a vós me volvo, espíritos bem-aventurados, e peço que assistais como advogados junto de Deus criador do universo. Escrevo estas linhas em vossa presença; lede-as do alto céu e intercedei por mim para que cumpra com fidelidade. Em vossa presença faço minhas promessas ao Bem supremo e a SS. Virgem Maria. Com seu especial auxílio e proteção valham-me sempre Santa Teresa, Santa Madalena de Pazzi, Santa Catarina de Sena e Santa Inês”.

“De quinze em quinze dias examinarei a consciência para ver se não faltei aos propósitos escritos.
Geraldo — que fazes? — Sabes bem que um dia te será apresentado o que escreveste? Cuidado pois para observares tudo! — Mas quem és tu que me fazes tais admoestações? Certamente falas verdade, mas não sabes que não confio em mim, não me atrevo nem me atreverei jamais a isso; depois que conheci minha miséria, receio muito confiar em mim. Só em Deus confio e espero; em suas mãos coloquei a minha vida, para que dela faça o que lhe aprouver. Eu vivi, mas já não sou eu que vivo; Deus é minha vida; nele acho minha fortaleza, e dele espero auxílio para de fato cumprir o que lhe prometo neste momento. Vivam Jesus e Maria”.

Resoluções
1. Ó meu caríssimo e único amor, verdadeiro Deus, hoje e sempre entrego-me ao vosso beneplácito. Em todas as tentações e tribulações deste mundo direi: Faça-se a vossa vontade! Abraçarei de coração tudo o que me ordenardes e, erguendo sempre meus olhos ao céu, adorarei vossas divinas mãos, que espalham sobre mim as jóias preciosas da vontade di-vina.
2. Meu Senhor Jesus Cristo, quero fazer tudo o que manda a Igreja Católica, minha santa mãe.
3. Meu Deus, por amor de vós obedecerei a meus superiores, como se vos visse diante de mim e vos obedecesse a vós em pessoa. Viverei como se eu já não fosse “eu” mesmo, conformando-me inteiramente aos juízos e vontade dos que me governam, na certeza de nos encontrar neles.
4. Quero ser pobre, muito pobre quanto aos prazeres e satisfação da vontade própria, e rico em incômodos de toda sorte.
5. Entre todas as virtudes, em que vos comprazeis, meu Deus, gosto mais da santa pureza e castidade. Ó pureza infinita, com firme confiança espero que me haveis de livrar de todo pensamento impuro, que eu, miserável, pudesse ter.
6. Só falarei em três casos; se o falar servir para a maior glória de Deus; se for útil ao próximo; se minha própria necessidade o exigir.  
7. No recreio só falarei quando apostrofado e nos casos acima.
8. Para cada palavra que eu for tentado a falar contra o beneplácito divino, prestarei reparação com a jaculatória: Meu Jesus, eu vos amo de todo o meu coração.
9. Nunca falarei nem bem nem mal de mim mesmo; procederei como se eu não fosse deste mundo.
10. Nunca me desculparei, mesmo que tivesse motivos para isso, a não ser que daquilo que dizem de mim pudesse originar-se ofensa a Deus ou prejuízo ao próximo.
11. Serei inimigo de toda esquisitice.
12. Nunca direi palavras quando censurado ou repreendido, a não ser que o exijam de mim.
13. Nunca acusarei a ninguém, nem falarei dos defeitos alheios nem por gracejo.
14. Procurarei escusar sempre o próximo, considerando nele a pessoa do próprio Jesus a quem os judeus acusaram injustamente — e isso nomeadamente na ausência do acusado.
15. Se alguém — mesmo que seja o reitor-mor — falar mal de outrem, chamar-lhe-ei a atenção.
16. Fugirei com cuidado de tudo o que possa impacientar o próximo.
17. Observando qualquer falta, tomarei cuidado em não repreender o culpado na presença de outrem; fa-lo-ei a sós com toda caridade e em voz baixa.  
18. Percebendo que algum padre ou irmão precisa de meu auxílio, deixarei tudo para o servir, se a obediência a isso não se opuser.
19. Visitarei os enfermos mais vezes durante o dia, se me for permitido.
20. Não me intrometerei nos negócios alheios, nem criticarei quando algum se desempenhar mal dos seus serviços.
21. Em todas as ocasiões, em que eu prestar auxílio aos outros em seus trabalhos, ser-lhes-ei obediente. Se me mandarem fazer alguma coisa, nunca direi: “Isso não é bom, isso não me agrada”. Vendo que a coisa melhor se faria de outro modo, di-lo-ei sem ares de mestre.
22. Em tudo o que eu fizer junto com outros, mesmo em coisas pequenas e insignificantes, como varrer a casa, carregar um peso etc., nunca me escolherei o primeiro lugar, posição mais cômoda, as melhores ferramentas; deixarei isso aos outros e contentar-me-ei com o que Deus me manda; assim os outros e eu ficaremos contentes.
23. Nunca me oferecerei para algum cargo ou coisa semelhante, a não ser que outros me peçam.
24. Durante a mesa não volverei os olhos para todos os lados, a não ser que esteja a isso obrigado pelo serviço ou caridade.
25. Do tabuleiro (em que se servem os pratos) tirarei sempre a porção mais próxima, sem olhar para as outras.  
26. Em todos os movimentos internos, contrários à razão, cuidarei em não lhes dar ouvido. Se for repreendido ou acusado deixarei passar o primeiro ímpeto, esperando restabelecimento da tranqüilidade.
27. Meu propósito principal é dar-me todo a Deus. Terei sempre ante os olhos as três palavras: surdo, cego, mudo.
28. As palavras “quero” e “não quero” sempre me serão estranhas; só quero, Senhor, que em mim se cumpram os vossos desejos e não os meus.
29. Para fazer a vontade de Deus, devo renunciar à minha. Só a Deus é que eu quero; se eu quero só a Deus, é justo que me separe de tudo, que não é Deus.
30. Cuidarei em não procurar a mim mesmo em coisa alguma.
31. Durante todo o tempo do silêncio menor, procurarei lembrar-me da Paixão e Morte de Jesus e das Dores da SS. Virgem Maria.
32. Todas as minhas orações, comunhões etc., devem reverter em bem dos pecadores, para os quais os oferecerei em união com o sangue preciosíssimo de Jesus.
33. Se alguém não podendo suportar as dores que Deus lhe manda, vier ter comigo, ou se isso chegar aos meus ouvidos, pedirei ao Senhor por ele e oferecerei todas as boas obras durante o dia para que Deus lhe conceda a conformidade com a sua vontade.  
34. Ao pedir a bênção ao superior imaginar-me-ei que a recebo do próprio Jesus Cristo.
35. Só em caso de necessidade pedirei à noite a permissão de comungar no dia seguinte, do contrário fa-lo-ei na véspera de manhã para ter mais tempo de preparar-me. Se esta me for negada, comungarei espiritualmente à comunhão do celebrante.
36. A ação de graças durará até meio-dia, e a preparação para a comunhão do dia seguinte de meio-dia até à noite”.

A esses propósitos pormenorizados acrescenta o irmão consciencioso alguns atos que usava recitar na visita ao SS. Sacramento e nas súplicas do divino amor.

Atos para a visita do SS. Sacramento: Meu Senhor, creio que estais presente no SS. Sacramento, adoro-vos de todo o meu coração, e tenho a intenção de vos adorar, por esta visita, em todos os lugares da terra onde vos achais sacramentado. Ofereço-vos o vosso precioso sangue por todos os pecadores. Desejo receber-vos espiritualmente tantas vezes, quantos há lugares em que residis sacramentalmente.

Atos de amor: Meu Deus, desejo fazer tantos atos de amor, quantos foram os da SS. Virgem e os de todos os espíritos celestiais desde o primeiro instante da sua existência e quantos são os de todos os fiéis do mundo. Desejo amar-vos com o amor com que Jesus vos ama a vós e aos eleitos e desejo repetir sempre esses atos de amor. Semelhantes afetos tenciono fazer para com a SS. Virgem”.
Geraldo acrescenta ainda um propósito que revela a sua fé viva. É o seguinte: “De hoje em diante quero tratar o sacerdote com todo o respeito, com a reverência devida à pessoa de Jesus; nunca perderei de vista a sua alta dignidade”.
Segue a explicação do voto de fazer sempre o mais perfeito. O santo continua.

Explicação de meu voto: Obriguei-me a fazer sempre o mais perfeito, isto é, o que me parecer mais perfeito diante de Deus. Isso estende-se a todas as minhas ações, por mais insignificantes que sejam; comprometo-me a executá-las com abnegação e perfeição. Suponho a permissão geral de V. Revma. para proceder com segurança”.

Limitações desse voto:
1.º - As ações que puser distraidamente, sem me lembrar serem contra o voto, eu as excluo.
2.º - Fora de casa serei livre em pedir dispensa dele a qualquer um.
Essa reserva eu a faço para evitar escrúpulos, que me seriam prejudiciais. Reservo-me o direito de pedir ao meu confessor desligamento desse voto, o que ele poderá fazer quando quiser”.
Enfim o servo de Deus aduz uma série de observações referentes à devoção, patenteia-nos seu coração inflamado de zelo e termina sua relação com um propósito, que nada tem de extraordinário, mas que prova a sua fidelidade até nas coisas mais insignificantes.

Devoção à SS. Trindade: Sempre que eu vir a cruz ou a imagens da SS. Trindade, ou que ouvir falar desse mistério, bom como no princípio e no fim de cada trabalho rezarei um Gloria Patri com toda a devoção.

Em louvor da SS. Virgem: Farei o mesmo para com a SS. Virgem; rezarei em honra da pureza de Maria Santíssima uma Ave-Maria sempre que se me  olhar uma pessoa do outro sexo.

Em louvor dos santos padroeiros: São eles São Miguel Arcanjo e todos os anjos, São Joaquim e Sant’Ana, São João Batista, Santa Izabel, São João Evangelista, o santo padroeiro do dia, do mês e do ano, o santo do dia em que nasci bem como o santo do dia em que vou morrer, São Francisco Xavier, Santa Tereza, Santa Maria Madalena de Pazzi, São Felipe Neri, São Nicolau de Bari, São Vicente Ferrer, São Bernardo, São Boaventura, Santo Tomás de Aquino, São Francisco de Assis, São Francisco de Salles, São Francisco de Paula, São Félix de Cantalício, São Pascoal Baylon, São Vito, São Luiz de Gonzaga, Santa Maria Madalena, Santa Catarina de Sena, Santa Inês, São Pedro e São Paulo, São Tiago e a venerável Irmã Maria Crucifixa”.

Antes e depois das refeições: Três Gloria Patri à SS. Trindade e três Ave-Marias à SS. Virgem; ao tomar pão ou vinho um Gloria Patri; ao tomar água e ao beber do relógio uma Ave-Maria.

Afeto: Ó meu Deus, oxalá pudesse eu converter tantos pecadores quantos são os grãos de areia na terra e no mar, folhas nas árvores, talos nos campos, átomos nos ares, raios de luz no sol e lua, e criaturas no universo.
Ao levantar e deitar farei os agradecimentos usuais na comunidade e depois os atos da santa comunhão; farei ao meio-dia e à noite o exame de consciência com o ato de contrição.
Vivam Jesus, Maria, São Miguel, Santa Tereza, Santa Maria Madalena de Pazzi e São Luiz”.
Essa era a regra que o santo se propusera observar. Na simplicidade da sua elaboração não desaparece a grandeza de espírito que a inspirou.  

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